domingo, maio 27, 2007

Ode aos meus alunos do curso de inglês comercial básico

Amanhã segunda-feira, dia 28 de Maio, é dia de teste para os meus meninos e minhas meninas do Curso de Inglês Comercial Básico. Gosto muito de dar estes cursos de inglês, pela experiência de ensinar, pela experiência de aprender mais ainda, por tudo aquilo que recebo das pessoas que se vão cruzando no meu caminho, todas estas pessoas que têm tanto ou mais valor do que quem tem o giz na mão. Já trabalhei no ensino primário, 1º e 2º ciclo, secundário, e gostei de todos eles, cada qual por razões completamente diferentes do outro, mas ensinar adultos possui mais particularidades ainda, e é do melhor que pode haver. Acho que recebe-se praticamente só coisas boas, quando as pessoas vêm, contra a maré após um dia inteiro de trabalho, depois de ter aturado com as chatices e responsabilidades, as opiniões e frustrações dos outros, ainda ter a coragem de gramar comigo ali a martelar coisas que, ainda por cima, nem na nossa língua são, sempre com o sorriso e muita paciência, mesmo se cansadas, com a família à espera, às vezes com a cabeça cheia de outras coisas muito mais importantes, tão perto e tão longe de ir finalmente descansar para casa. Ainda por cima, este bronco deste formador tem que nos enfiar com um teste, só a palavra criando um bicho de sete léguas na cabeça e quem não sabe o que vem aí.

Como vos tinha prometido, estou aqui a dar-vos uma ajudinha. Peço desculpas a quem não está dentro do assunto, mas hoje, este post é dedicado.

A folha extra, a folha número quatro, aquela que não apareceu da última vez que estivemos juntos a resolver a chamada “ficha de preparação”, já alguém o tinha mencionado (não foi Helena), não é nada mais nada menos que a folha de rosto, com os vossos nomes, data, e classificação!
A “ficha de preparação” é capaz de reaparecer, assim por milagre, só que com o nome de “teste”!!!!
Acho que já me fiz entender…
Até Segunda-feira pessoal…

P.S. Isto não é graxa ouviram, não estou a arrastar a asa para que me venham dar uma boa avaliação…

sexta-feira, maio 25, 2007

Conduzir em Portugal ou melhor que raio é que vocês procuram todos afinal!?




Não me levem a mal, até porque não sou daqueles que se pode queixar muito, já que como já o tenho mencionado anteriormente, vivo no Algarve, onde o trânsito não é problema, tirando o período dos três meses de verão, em que aparece por aqui gente que não lembra à gente, quanto mais ao menino Jesus. Eu gostava de compreender qual é o prazer que as pessoas têm em vir de férias somente para dizer que estiveram no Algarve, para depois esborracharem-se umas às outras nas nossas praias, com as cabeças duns encostada aos pés dos outros (simplesmente asqueroso), chatearem-se durante mais de uma hora e meia para arranjar um lugar onde encostar o carro, e depois passar meia hora no sítio onde queriam ir. Não percebo. Meus amigos a Floribella dá também em vossa casa no verão, não precisam de vir aqui para andarem aborrecidos e zangados uns com os outros. Vão para Espanha que é mais barato e muito mais divertido! VÃO PARA ESPANHA! Têm lá a Sic e RTP Internacional! VÃO PARA ESPANHA!!!!!!!!!!!!!!!
É mais fino! É mais barato! É mais tudo!!!!!!!!!!!! VÃAAAO PARA ESPAAAAAAAAAANNNHHHHHHAAAAAAAAAAA!!!!!!!
Gostaria de saber como é que se pode aguentar uma vida no trânsito. As filas de trânsito já tem direito a tempo de antena, seja na televisão ou na rádio. Aposto como já há gente que grava o programa para depois poderem dizer aos vizinhos que lá estavam eles ali a passar no ecrã, aquele é o meu carro branco com os quatro piscas ligados, este sou eu sim, olá mãezinha, etc e tal… Nunca passei pela experiência de querer chegar a casa e ter de esperar duas horas para fazer 800 metros, e quando, finalmente me livrei da fila, cinda tenho de dar mais uma voltinha à procura de lugar para estacionar. Acho que se saísse do trabalho às 7 e chegasse a casa às 9h30, despedia-me sem pensar duas vezes. Pensando melhor, nem sequer uma vez pensava … É isso e acordar não sei quanto tempo mais cedo para poder esperar que o vizinho saia para lhe ocupar o lugar, e poder ir para o trabalho. Nem sei o que pense acerca disso. São horas de vida que se perdem por causa de dois carros, o nosso e o do vizinho. É triste viver-se desta forma. Compreendo que muitas vezes não há outra forma de fazer, mas se pensarem nas horas de vida que perdem com o carro, mais as despesas de gasolina, arranjos e seguros, é quase como a frase que diz que por cada cigarro que se fuma é uma hora de vida que se perde. Por cada vez que uma pessoa saí uma hora mais cedo de casa para se enfiar no trânsito, mesma coisa ao regressar com duas horas de atraso, mais o tempo e a gasolina que perdeu para estacionar, mais as irritações do trânsito, então acho que mais valia fumar um cigarrinho ou dois e não ter carro, não acham?
P.S: Sr condutor, se para além das preocupações que o trânsito provoca nos seus níveis de stress, saúde e carteira, ainda por cima for fumador, o melhor será então recorrer a um especialista em terapia da destruição total iminente…

Em Portugal conduz-se mal e não se respeita nem quem conduz mal, nem quem conduz bem. Sim porque também há que respeitar quem conduz mal, porque é um perigo por natureza, e se tiver de bater, que o faça sem levar inocentes com ele. Já fui testemunha de um senhor que tinha estacionado num lugar reservado a pessoas com deficiência, que, ao sair do carro e ao avistar um senhor polícia, fez-se literalmente de “coxo”, arrastando a perna sem a ponta de vergonha. Não sei o que foi pior, o que esse animal fez, ou o Sr. Polícia que fez como se não fosse nada com ele. O Sr. Agente não devia saber que os condutores com deficiência têm (ou tinham até agora) selos no carro que os identificavam devidamente.
Este é um dos 7 ou 8 exemplos que vejo por dia.
Caros senhores e senhoras que vêm de férias para cá, por favor, vocês estão aqui para descansarem e não para continuar o estilo de vida que levam durante o vosso dia-a-dia. Tenha Calma e Paciência que nós por aqui vamos tentar portar-nos bem na estrada. Pode ser? E a Espanha aqui tão pertinho…

domingo, maio 20, 2007

A bruxa de Oz



Ando deliciado com um livro que me ofereceram. Chama-se A Bruxa de Oz e o seu autor é o Gregory Maguire. Imaginem que este senhor resolveu contar a história da bruxa que Dorothy teve de matar para voltar ao Kansas em O Feiticeiro de Oz. A bruxa sempre teve razões para ser infeliz, o “mal” veio depois. Mas que mal é este que resulta da opressão sucessiva sobre tudo aquilo que é diferente? Não será antes um mal que resulta apenas de uma opinião generalizada, um acordo entre as pessoas, uma convenção que exige que se aponte o dedo a alguém, que se opte por culpar antes de reflectir, para criar uma noção de segurança, uma sensação de vingança que nos torna egoistamente mais felizes? E que se lixe quem está do outro lado da balança, na ponta do dedo...

A Bruxa de Oz conta a história de Elphaba, uma menina de pele verde, insegura, rejeitada tanto pela mãe como pelo pai, um pastor reaccionário. Na escola ela também é desprezada pela sua colega de quarto Galinda, a fada boa do Norte, que só quer saber de coisas fúteis: dinheiro, roupa, jóias. Neste contexto ela descobre que vive num regime opressor, corrupto e responsável pela ruína económica do povo. Elphaba decide, então, lutar contra este poder totalitário, tornando-se a Bruxa Má do Oeste, uma criatura inteligente, susceptível e incompreendida que desafia todas as noções pré-concebidas sobre a natureza do bem e do mal.

Para mim o prazer é duplo, primeiro porque sempre gostei muito da história do feiticeiro de Oz, e segundo porque sou fanático por obras de ficção e fantasia. Já o tenho dito anteriormente, para coisas da vida real, basta-me abrir a minha janela, ligar o rádio ou então olhar em meu torno, dia após dia. Nunca perco uma oportunidade de me sentir noutro mundo, noutra realidade, cheia de cor e movimento, estranhas danças e outros ambientes místicos. Salto literalmente para outra dimensão sempre que me aparece algo do género. O fantástico da leitura é o facto de ser capaz de literalmente “desaparecer” esteja onde estiver, em que lugar for. Pode ser na fila das finanças (onde um livro dá muito, mas muito jeito), na sala de espera de um consultório (aqui temos a vantagem de estarmos, pelo menos, sentados), ou no comboio (isto devo admitir que é mesmo propositado, já feito viagens de uma ponta à outra do Algarve, só para ter o prazer de sentir o pulsar da máquina enquanto leio). O engraçado é que também tenho leitor de mp3 e rádio e consola portátil e mais não sei o quê, mas nenhum deles me dá o prazer que me dá uma boa obra, se for de ficção ou fantasia melhor ainda.
Um aspecto que gosto particularmente é o facto de o herói, é ser neste caso, anti-herói. Gosto muito quando as personagens são os chamados “maus da fita”. Com todo o respeito, Homem Aranha, és fixe e até tens uns poderes interessantes, mas se tivesses do lado dos filhos da mãe era muito mais divertido.

Em relação a este livro era giro que fizessem um filme. Penso sempre nisto quando gosto das obras. Quando saiu a saga do Senhor do Anéis em filme não me pude conter de felicidade. Gostei muito da forma como fizeram O Perfume. Outros não saíram tão bem mas no geral é sempre interessante ver qual a forma utilizada e com que detalhe os realizadores se tentam colar ao original. Gostaria de ver os Cem Anos de Solidão do Gabriel Garcia Marquez em filme. Isso sim era um desafio. Um Salman Rushdie. E já agora a O Memorial do Convento do Saramago. Gostava de ver o canhoto Sete Sois no ecrã…

sexta-feira, maio 18, 2007

Há dias em que tudo corre mal


Há dias em que tudo corre mal. Há dias em que tudo corre mal. Há dias em que tudo corre mal e, além de correr mal, ainda “correm” literalmente, quando precisamos que abrandem, e abrandam quando precisamos de apressar o passo. Já o dizia o Einstein “ experimentem pôr a mão no lume durante um minuto e esse minuto parecerá um ano, beijem uma mulher bonita durante uma hora e essa hora irá parecer uns meros segundos…” e com razão. Quando queremos que algo corra bem, irá correr mais ou menos, e, sem a mínima dúvida, piorar de modo gradual, acelerando cada vez mais em relação ao tempo que vai, esse sim, malvado, vai diminuindo de modo mais gradual e mais acelerado ainda. Qual o resultado? Stressinho, stress, stressmente, stressão, e não tarda nada chega o tão famoso stressALHO, os maravilhosos palavrões, injurias e os pontapés, canetas pelo ar, papelada e outros utensílios que apanhamos á mão, de igual modo atirados contra uma parede que não tem culpa nenhuma, enquanto vamos amaldiçoando o dia em que nos metemos nessa embrulhada. Juramos afincadamente que nunca mais nos metemos noutra igual e prometemos que, se o nosso problema se resolver, caso venha a ter um final mais feliz, mas do género… JÁ(!!!!! Estes pontos de exclamação representam ódio, um ódio tal, aquele ódio que me faz olhar para cima e amaldiçoar aquela coisa que está a gozar comigo e a rir á gargalhada e a comentar com os amigos dessa coisa superior, “olhem só aquele desgraçado, fui eu que lhe preguei mais uma!!!), então juramos a sério, a sério que juramos, desta é mesmo verdade, que na próxima vez que tiver de fazer uma cena destas (reparem que ainda há pouco tínhamos pensado em não nos metermos noutra igual, mas o desespero é tanto que já optamos por outra aproximação) faremos as coisas de maneira muito, mas muito, ou melhor, completamente diferente. Quando, ou melhor se, finalmente, após uma luta desgraçada entre o que é racional e o amor-próprio que leva umas valentes sapatadas, conseguimos sobreviver e resolver o problema, metade do prazer que era suposto nos proporcionar já foi por água abaixo, em troca de um duche valente com a água na sua pressão máxima, tipo a mangueira dos bombeiros que até dá para nos jogar ao chão e espalmar o nosso corpinho pelo soalho/asfalto/areia/whatever... enfim. Se juntarmos a sso o facto de ser precisamente durante os últimos minutos de trabalho da semana, quenos faz pensar em, talvez sair mais tarde do que se esperava, a espuma de raiva que tenta sair-nos da boca deve ser engolida, porque estarmos frente ao patrão e tentarmos dar uma de … tudo bem, na boa, eu resolvo já isso, tá-se bem sua majestade (sai-me mas é da frente antes que eu entre em colapso mental e te afinque umas valentes marretadas nessas linda trombinha, então não sabes que é sexta e quero desaparecer daqui! Heim! Não sabes seu, seu… !!!).
Neste momento estou a escrever-vos de uma posição mais vantajosa, já que resolvi o meu problema e que a parte de ficar mais tarde (bate na madeira) desta vez foi inventada. Mas já me tem acontecido. O que vale é o bom tempo que faz, o que vale é que não tarda nada estou debaixo da mangueira dos bombeiros, o que tarda é que vou ter um fim-de-semana mesmo fixe, e o outro, aquele ranhoso que me está a ver dali de cima, de outra dimensão, sim tu tens o comando, o joystick da minha vida nas tuas mãos, tu que me pregas essas partidas, tu ser superior que não tens nada mais que fazer senão pegar comigo, heim! Vai dar uma volta, vai apanhar ar seu ordinário, deixa-me em paz ouviste!

Caros colegas de sorte igual ou superior à minha. Tenham paciência. Estamos todos convosco. Amanhã há mais…

quarta-feira, maio 16, 2007

Realidades Alternativas - Parte VIII - Invisible, invencible


O Sr. Fronteira estava satisfeito com a vida. Casado com a mulher dos seus sonhos, uma linda casa junto ao mar, uma boa posição empresarial, uma carteira de títulos invejável, e um estilo de vida versão “auto cruise”, enfim, tudo aquilo que a grande maioria das pessoas deseja para elas próprias. O sonho e talvez mais ainda. O nosso homem sentia-se bem, em concordância com o universo, em paz consigo próprio. Mas acham que alguém o iria deixar assim por muito tempo? Existe alguém neste mundo que mereça tal honra? Nem pensem nisso. Quem tudo tem, nunca satisfeito está, a coincidência limitou-se a dar o empurrãozinho que faltava, e lá foi ele, como qualquer um tomaria o mesmo caminho. O que a natureza concedeu ao Sr. Fronteira foi algo que nem ele, nem eu, nem ninguém poderia ter previsto. Os poderes superiores não concordaram com tamanha sensatez, decidindo por ele, um futuro tão radiante e tentador, que acabaria por levar o seu corpo aos riscos mais elevados. Alguém decidiu divertir-se, ver até onde poderia ir a sua audácia de homem cauteloso como ele. O que se passou foi muito simples e ao mesmo tempo muito complicado, maravilha e susto, poder e submissão. O Sr. Fronteira tornou-se invisível. Invisível para o mundo, para a sua família, para os seus vizinhos. E tudo isto aconteceu de um momento para o outro. Foi enfeitiçado pela arte de nunca ser visto em todo o seu esplendor, junto da sua cruz, com a sua sabedoria. Daqui para a frente seria sempre a descer, com todos os santos a empurrarem-se para ver o espectáculo da primeira fila. No início não compreendeu os olhares alheios que o atravessavam como nuvem. Entrou em pânico, ressentiu-se nesta nudez total, até que se fez finalmente luz, e ao seu espírito veio a surpresa, quase seguida do terror por não dominar aquilo que faz parte de nós. Resignou-se, aceitando o seu mal e ponderou o peso da sua nova limpidez. O tempo e muitas tentativas acabaram por dar os seus frutos e, consequentemente, resolver muita coisa. Com o tempo o Sr. Fronteira percebeu que podia controlar o seu novo dom. Podia mantê-lo ou não, desvanecê-lo quando quisesse, e começou a achar que, se calhar, tinha merecido isto que achava ter sido um prémio por “bom comportamento”. Achou que se tinha tornado num super herói, já antevendo o seu sucesso junto dos criminosos. Veio então a felicidade, a ansiedade em testar as suas novas capacidades, qual criança perante o seu no brinquedo. Preferiu nunca contar nada à sua mulher. Manteve sempre o segredo guardado, não fosse a coisa correr mal, não havia necessidade de expor, pelo menos para já, a sua nova situação. Talvez a inveja começasse a estabelecer-se no coração. Guardar o segredo bem guardadinho, tudo meu, tudo meu, tudo meu, tudo eu.

Começou por brincar em casa. Aproveitando o facto de estar só, fez-se de fantasma, vagueando pelos quartos, surpreendendo-se aos espelhos que não o detectavam, reaparecendo subitamente numa pose teatral, por vezes qual monstro assustador, outras vezes o espião galã com o seu ar irresistível, ou então o detective feroz, de arma em punho para o ecrã. Acumulou coragem e foi até ao jardim. Deu umas e outras voltas, mas, sem vizinhança ou outros perigos quase inexistentes levaram o nosso homem à frustração. Quis mais adrenalina. Experimentou ir á praia, e divertiu-se com a marca dos seus pés na areia. Deu um mergulho, saiu do mar, escorrendo a água pela borda da praia, e pouco mais… Pois é, um brinquedo novo tem de ser explorado até à exaustão e o formigueiro começava a entranhar-se cada vez mais na sua alma. O passo que o levou a tomar a decisão de entrar na vida alheia foi deveras curto e, após a primeira experiência no seu escritório, passando pela sala de reuniões onde ouviu comentários sobre ele, perdeu a timidez e decidiu ir mais além. Decidiu alimentar o seu ego com aventura, egoísmo, voyeurismo, e, sobretudo, malvadez.
Passou a vigiar os vizinhos, aprendendo coisas que não sabia que podiam existir, depois de vigiar começou a visitá-los no seu lar, um a um, como um fantasma, vendo-os na sua familiaridade, escutando a sua intimidade, enquanto a sua alma vibrava de prazer. Entrou nas lojas e sentiu-as à sua mercê, aprendeu códigos de segurança, esconderijos de dinheiros e chaves, e a sua alma gritou por mais. Foi a cinemas e museus, teatros e exposições. Passou a frequentar hotéis de luxo, acabando por preferir os mal afamados. Viu o crime e gostou, viu a luxúria e satisfez parte do seu desejo, espreitou e serviu-se do pecado alheio.
Deixou quem tinha de bem para frequentara vida terceira. Abandonou a mulher e a sua vida, para abraçar aquilo que sentia, o mau e o vilão. Viu brigas e envolveu-se, conheceu a morte e usou-a, até que tudo tem um fim quando queremos saber demais. Foi atingido num fogo cruzado. Morreu sem cor num dia de luz. Um negócio que não era dele largou-o no meio do nada. Foi largado tal como tinha abandonado o mundo dos sentidos e sentimentos, foi o inesperado que o alcançou, e com ele o inalcançável. Há males que vêm por bem, há bens que vêm por mal. O pior da vida são os presentes envenenados.

sexta-feira, maio 11, 2007



Prevê-se um grande fim-de-semana cheio de sol, cheio de mar, cheio de mar mesmo se estiver apenas uma pontinha de sol por aí... no place like home. Quanto aos outros places, aproveitem o melhor que puderem!

Lista de coisas que nos são entupidas no cérebro, e que apenas servem para ocupar espaço (até que alguém acabe por ceder)


Hoje em dia sempre que ligamos a televisão ou a rádio, de cada vez que atravessamos a estrada, todas as saídas para dar um passeio, trabalhar ou nem que seja apenas tomar ar na carinha, somos massacrados com promessas de felicidade a preços baixos, maravilhas de viver à base de suaves prestações e com um desconto brutal, ou então, se formos mais afortunados ainda, o prazer de ganhar um sempre magnífico automóvel, para além das já referidas felicidade ou da maravilha de viver. Nada melhor do que beber um suminho fantástico e acabar ao volante de um sempre magnífico automóvel. Nada mais esplendoroso que é uma pessoa comprar uns rolinhos de papel, guardanapos, lenços, ou outros afins do mesmo material têxtil, sem, claro, estar perigosamente habilitado a concorrer para receber, o quê, o quê? Nada mais, nada menos do que…. um… Sempre magnífico AUTOMÓVEL!!!!! Estou a falar, como já devem ter percebido, da publicidade, dos prémios, das viagens, das baixas mensalidades, dos descontos, das promoções, dos preços mais baixos, 30, 40, 50, 60 por cento de desconto, o sempre magnífico automóvel (já tinha falado do sempre magnífico automóvel?), ou melhor, um carro por dia, sim porque um só não chega, tem de ser um por dia, bilhetes á borla, as tão desejadas Tshirts e os bonés, autocolantes, bandeirinhas, e outros afins que, sinceramente, já estão tão repetidos, mas tão repetidos que já não sei se os morangos com açúcar tem Sumol, se o novo Renault é um burro a subir uma encosta, ou se a euribor vai dos 0 aos 120 em 3.4 segundos e é a diesel. Tudo isto bem florido com a ajuda da floribella que usa uma pasta de dentes que faz brilhar o cérebro e que oferece, o tal carrito do costume, e chegamos a um mundo encantado onde tudo são sorrisos e gente jovem e bonita que sai pela janela dos bancos deste país a conduzir.
Eu pessoalmente gostaria que me explicassem se é mesmo este empurrãozinho que convence alguém a enviar um cupão, ou até a enterrar-se mais um bocadinho em dívidas. Eu compreendo a teoria que diz que, se pelo menos um destes pacóvios puser o pé na argola, já compensa o gasto do dinheiro do anúncio em questão. Se calhar, para tornar isto cada vez mais verosímil, cada vez mais perto da nossa casa, do nossa oportunidade já aqui ao pé da nossa trombinha, se calhar até começávamos a dar nomes ás pessoas que ganham os referidos prémios, o climax de rebentar as costuras do orçamento familiar. Ora, vejam só como o Sr. José Sousa recebeu um mealheiro em forma de cãozinho dálmata completamente gratuito, tudo graças ao facto de ter aberto uma conta nova, conta essa que foi necessária em favor do empréstimo do apartamento que, após as mensalidades pagas a 80 anos, e o preço do burro que sobe e desce a colina, iria no final das contas todas custar 4 vezes o preço original, mas lá que é um grande negócio lá isso é. O cãozinho mealheiro é muito bonito sim senhor… E a Tshirt? Uma maravilha de algodão…


P.S. Oferta válida só para os modelos 3.1, 4.7 e 5.18 e com uma entrada de 10000 euros no primeiro mês, que é quanto temos de pagar ao jogador de futebol maravilha que aparece no cartaz ali na rua, o qual nos custou um dinheirão, mas não faz mal porque até dá para descontar, mesmo se, no fundo, no fundo, não ganhamos nada de especial com esta merda. É só para dizer que o jogador de futebol maravilha que aparece no cartaz ali na rua está do nosso lado. É aqui da malta. Ele está connosco!!!!

P.S.2
Não queremos gastar dinheiro com isto. O anúncio é mau mas o líquido, esse é mesmo de qualidade. Oferta de 15 bicicletas por dia...

quarta-feira, maio 09, 2007

Coisas que me apetecem fazer todos os dias (ou quem tudo quer tudo perde)


Gosto de pintar. Tive umas aulas de iniciação à pintura e, para quem achava que não ia dar em nada, até fiz coisas engraçadas. Acabei por descobrir que dava-lhe no desenho a carvão e tudo. Quando pintava seja algo “grande” ou não, acabava sempre por pintar-me a mim próprio primeiro e a tela depois. No final parecia que tinha acabado de dar uma segunda de mão ao edifício todo. Divertia-me muito em sujar-me. Gostava de poder pintar de vez em quando. Tinha de voltar a comprar material mas isso não era problema. Outra coisa que é muito muito importante para mim é (são) a(s) minha(s) guitarra(s). Estudei guitarra clássica no conservatório. Andei lá 5 anos e fazia oitos com aquilo. Adoro tocar Bossa, Fado e Flamenco. Neste momento não tenho pegado muito no instrumento, estas coisas para manterem-se minimamente decentes têm de ser praticadas com alguma regularidade. Gostava de ter mais tempo para tocar. Gostava mesmo. Há coisas que se vão desintegrando com o passar da vida, e uma delas é a elasticidade versus versatilidade dos dedos. Quem toca compreende aquilo que quero dizer. Não é bem como andar de bicicleta, ou melhor é mais como fazer manobras na bicicleta ( vá assim está melhor, pedalar nas cordas ainda consigo fazer). Outra coisa mesmo grave e importante para mim, é o desporto. Gosto de ginásios e de tudo o que são actividades náuticas. Não vivesse eu à beira do mar não é. O windsurf, uma das minhas mais recentes experiências, dá-me sempre uma certa comichão sempre que sinto o vento por aqui. Agora que o calor está a regressar á minha terrinha aqui ao sul plantada, ainda é pior. Apetece mesmo e, a seguir, um lanche mesmo brutal para compor o cenário, estes têm sido os meus sonhos ultimamente. Ora bem, mas porque raio é que não consigo fazer nada com tanta alternativa possível? Porque sim, porque não, porque trabalho e trabalho e trabalho, e, ao fim do dia, quando regresso a casa, trabalho mais um bocadinho. Já agora, fica aqui registado que gosto mesmo de trabalhar. Quando as coisas resultam tal como queremos, até dá gosto fazer montes de outras coisas que acabam por resultar em prazer físico, emocional e (sobretudo)monetário. Quando damos por nós o tempo passou num estalar de dedos. Ultimamente tem-me apetecido fazer outras coisas. Apetece-me pôr toda a leitura em dia, apetece-me também sair e andar de comboio até me fartar, apetece-me jantar fora com montes de gente de várias áreas, apetece-me juntar-me a um clube ou grupo, ou banda, e fazer barulho de qualquer maneira e feitio. Sabem que mais, nunca devia era ter ligado a porcaria da consola, nunca devia ter instalado a TV cabo, nunca devia ter Internet. É prazer imediato e fácil demais. É só juntar água a ferver. Tudo isto entra-me no sistema imunitário e acaba por transformar-me numa lesma/minhoca aos fins-de-semana. Eu bem tento, há sempre qualquer coisa que me agarra à cama, há sempre qualquer coisa na televisão. Acho que vou ter de por o despertador para sair de casa e fazer mais qualquer coisa. Qual delas? Ainda estou para descobrir. Será que estou a passar pela “crise dos 30”? Isso existe uma crise dos 30? Será que estou a ser completamente parvalhão por ter problemas que não são problemas tão pouco? Estarei a precisar de uma carga de porrada?

terça-feira, maio 08, 2007

Não tenho visto Televisão

... mas se por acaso os nosso lindos canais públicos se estiverem a aproveitar do caso da menina inglesa desaparecida no algarve para fazerem subir as audiências com a desculpa de ajudar seja naquilo que for, gostaria de lhes dizer que metem-me tanto nojo quanto aqueles que fizeram o que fizeram à criança...

A fruta é só minha.


Ia ele relembrando o tempo em que era jovem, enquanto ia jogando fora as sobras das árvores. Tinha sido pobre enquanto criança, cresceu no meio da fome, acabou por ir parar à chamada tropa, fez a guerra que transforma as crianças em homens e homem de lá voltou, com ideias e formas de pensar que se adequavam à altura. O poder do humano sobre todas as coisas, a força da raça, sobretudo sobre a mulheres, mulheres essas que conheceu um dia, uma delas em particular e que ficou para sua, estando sempre no sítio certo, à hora certa, sem uma queixa, sem uma injuria que se preze, toda ela foi disciplina e ordem (a sua tropa pessoal). Os tempos que se seguiram foram duros mas sempre esteve à altura daquilo que ia aparecendo. As ajudas do estado, como recompensa por ter sido soldado, permitiram-lhe manter a cabeça fora de água e resistir, nunca sem pensar duas vezes naquilo que teria de abdicar se quisesse algo um nada melhor, e se muito abdicou, foi porque a necessidade falava sempre mais alto. Não viajou, não festejou muitas vezes, não participou, não esbanjou, não respirou muito alto… No entanto tinha a sua casinha e o seu terreno, com as suas árvores. Era tudo o que lhe tinha sobrado da existência, e já era bem bom. As suas árvores que tinham múltiplas funções, aquelas de alimentar com a sua fruta, as de fornecer sombra nos dias de calor, as do chilrear dos pássaros e o borbulhar de outras formas de vida, as de dar alguma cor ao seu mundo, as de dar trabalho com a sua manutenção, e, finalmente, as de partilhar a longevidade, acompanhando o tempo e aumentando o espaço, sinais do património, esse sim deveras grande, aquele, o património da vida.
O fruto principal das suas árvores eram esses mesmos, os frutos. Sumarentas Laranjas e apetitosos limões, alperces, pêssegos, e medronhos, figos carnudos e deliciosas romãs, as amêndoas, todo este o pedaço de Algarve, e tudo isto graças à terra cuidada pela sua mulher e por ele, terra generosa, água e muito carinho. O carinho que a sua mulher sempre tivera desejado, a cooperação, a cumplicidade, tudo isto conseguiu encontrá-lo naquele humilde terreno. E foi-lhe suficiente. Nunca tiveram filhos, apenas estes com ramos por membros, troncos por almas, seiva por sangue, abençoados pela terra-mãe.
Hoje está tão velho como as suas árvores são jovens e com mais força do que nunca, tão férteis como a sua vista é fraca, pesadas e frágeis as suas pernas . Nunca escreveu um livro, nuca teve um filho, mas plantou estas árvores como quem escreveu toda a sua vida naquela madeira, educando as suas folhas como quem vive em sobressalto, quem existe para ajudar a crescer. Esta manhã lá estava ele com baldes e baldes de fruta. A sua fruta, que conhece como a palma das suas mãos. A fruta que nunca lhe faltou, a fruta que sempre teve a mais, mas, no entanto, a mesma fruta que nunca partilhou com mais ninguém. Vi o esta manhã. Vi-o como o vejo por vezes em direcção ao contentor do lixo com os seus baldes cheios de fruta. A fruta é só dele, tal como foi a vida, tal como foi a sua forma de pensar. Hoje já não tem forças para discutir com os transeuntes que lhe criticam o facto de jogar toda aquela comida fora. Hoje já não discute, hoje aproveita a sua velhice para fazer-se surdo. Nunca pensou em distribuir a sua riqueza. Nunca lhe passou pela cabeça tal acção. Nunca teve o prazer de sentir o calor de dividir com alguém mais necessitado. Exceptuando algum familiar mais próximo que tenha passado pela sua humilde casa, nunca a sua fruta foi provada por seja quem for. Nem que fosse uma ou outra. O melhor, segundo ele, é aquilo que ele não aproveitar, ninguém mais o aproveitará. Afinal é a vida dele que está ali. É a sua vida dura e triste que ali permanece. No contentor do lixo…

domingo, maio 06, 2007

Primeiro o silêncio


Silêncio. Primeiro o silêncio e só passado algum tempo uma sonoridade que nos chega devagar, com suavidade e bastante longe, como uma recordação. Som de violinos, tubas e clarinetes, bem mais próximos, respeitam o equilíbrio da balança, enquanto a cena nos atinge os olhos. É sinal de que, apesar de tudo, todos os males sem remédios, todas as apoquentações sem resolução, acabam sempre porque no fundo nu fundo, está tudo bem. Sempre o esteve, e irá manter-se assim, simplesmente porque não há volta a dar. Por mais que nos doa, por mais que faltem pessoas à nossa volta, por mais que nos façam falta, não há nada a fazer, é assim mesmo, a vida continua. E está tudo bem. Juntam-se os que sobram e os que vão aparecendo. Juntam-se aqueles que podem e a alma de quem não está junta-se com eles. É assim. Um dia alguém irá desligar-nos da consola. Chegaremos ao fim do jogo e poderemos passar a outra coisa. Até lá só nos resta fazer o melhor que podemos, neste sorteio que é a vida. Silêncio. Sonoridade suave, explosão de prazer, explosão de dissabores, explosão de vida. O equilíbrio do desequilíbrio. A felicidade na confusão. O caos da ordem. Assim temos de seguir em frente, custe o que custar. A pausa que reflecte o virar da página. A orquestra torna a acordar.
Eis que chega a manhã. Soleira sonora, novo espaço limpo e pronto para uma nova frente. Recomeça o burburinho, ao que se segue o som, este majestoso e real. O movimento que representa a prova da existência de milhares de pensamentos e ideias que se comovem e apressam pelas ruas da cidade. Desta vez encontramo-nos num local sem grande confusão, a não ser da paz do vaguear pela avenida que se estende junto do oceano, com calma. Não sei se o beijo que nos dás é uma bênção ou uma cruz que representa o teu estado de latência invencível. Sempre lá, perto de nós, a oferecer-nos a tua imortal mortalidade. A tua água já viajou o mundo, as tuas ondas provam-nos o quanto o nosso jogo é tão fútil. Só o nosso pensamento consegue suplantar o teu poder, o espaço é todo teu, mas, tudo aquilo que preenche o espaço, esse sim cabe nas almas de cada uma destas pessoas que passeia pelas margens desta cidade limitada pela areia do teu mar. A orquestra parece completa. No entanto ouvimos do fundo do nada, o clarinete da inconstância.
A sua alma está em desencontro. Toda a sua vida tem sido uma luta entre independência e a “descompreensão” do mundo que a rodeia, da sociedade. A isto chamamos adolescência, mais parece no entanto que adolescência dela sempre existiu, desde o dia que pôs os pés no mundo, desde o primeiro grito de inconformismo. Tem cuidado, põe-te em guarda, toma atenção ao que fazes. Ou melhor, fá-lo sim e boa sorte. Melhor assim. Venha o que vier, desvia-te se conseguires. Somos todos invencíveis até que ficamos mais velhos, e, se lá chegarmos, passamos a ter medo de tudo, e a depender da mínima brisa matinal, o vento já não é aquele que nos guia, mas sim aquele que serve de dínamo ao nosso desgosto preocupativo. Só o saberemos depois de chegarmos, e nunca no dia em que no-lo disseram. Depois sim, olhamos para trás e pensamos que devíamos ter ouvido aquilo que nunca quisemos ouvir, naquele tempo em que éramos invencíveis. O melhor seria se nos tivessem antes dito, “hás de lá chegar, a tua vez há de vir”. Pelo menos passaríamos mais tempo a olhar por cima do nosso ombro. Pelo menos isso…

P.S: Nem tudo são espinhos e gosto de inventar palavras.

sexta-feira, maio 04, 2007

Angelina Jo????? Angelina Jolieta não é?


Ando a esquecer-me das coisas. Principalmente dos nomes, sejam eles de autores, actores, cantores, políticos ou outras personalidades. Nomes de ruas, nomes de bandas e grupos musicais, também me fazem confusão por vezes. Tem me acontecido agora, mais do que nunca. Ok, tudo bem, sou distraído por natureza. Muito distraído mesmo. Adoro o mundo da lua. No entanto nunca fui muito esquecido. Tenho a sorte de conseguir decorar muitíssimo bem tudo aquilo que envolve números. Qualquer número de telefone, BI, Código postal, código de segurança, PIN, PUK, código do clube vídeo, valores, quantias e tal, tudo isso se fixa em mim por bastante tempo, sem nunca se esvair realmente, sempre que necessite de recuperar algum algarismo, ainda que se tenha escondido no fundo fundo do saco, consigo ainda, qual dentista na busca da raiz teimosa, extraí-lo de novo, novinho que nem uma folha. No entanto nomes é que não, não atino com eles, ou melhor, desde algum tempo tenho sentido dificuldades em lembrar-me de alguns. Será informação a mais? Será que o meu saco já está a ficar muito cheio? Será a porcaria do telemóvel que não me larga o dia todo, e que interfere com as minhas ondas cerebrais? Ou será do facto de eu literalmente passar o dia a fazer aquilo que os meus colegas chamam de “Multi-task”, das 9h00 ás 23h00. Gosto de fazer tudo e mais alguma coisa ao mesmo tempo. Adoro tudo o que me chega ao mesmo tempo e sou capaz de lidar com isso. Sinto-me bem nesse caos. Ainda nunca me aconteceu “afogar-me” em tarefas mas chego lá perto. E não pensem que é porque deixo acumular. Nem sequer preciso disso. Cansaço? Não me parece. Não penso que tenha idade suficiente para precisar de descanso. Ainda estou para as curvas, sejam elas físicas ou emocionais. Se fosse parar agora, acho que era mau sinal. Mas sim ando a esquecer-me das coisas. Aquelas mini coisinhas que servem para completar os desenhos mentais, e que dão lógica a toda a sequência. São essas que me falham por vezes. Nunca me aconteceu esquecer-me de algo mais importante, mas a meio das conversas, as coisas que tenho na ponta da língua recusam-se a saltar cá para fora de uma vez por todas. Esforço, contorço e pressiono e empurro, se bem que em vão muitas vezes, é a minha costela humana e esquecida falando sempre mais alto. Uma seca…