domingo, maio 04, 2014

Chega pra lá






Hoje não me aborreças. Não os quero ver pela frente com as suas tíbias a tremer da menos frescura e do excesso de bebida. Não me venhas com as tuas falinhas espertalhonas e os teus ares de menino crescido para cima de mim. Não te aturo nem a ti nem aos teus clientes imbecis que não fazem mais nada senão olharem-me de alto abaixo com a baba pelo joelho. Já que me tenho de conter que ao menos lhes contenha a saliva para outras curvas mais exóticas. Mais coloridas. Tudo menos eu. Não sou escravo desta gente que se detesta para cima de mim. Faço mais do que a minha vida o depende. Eles que rebentem com as suas longe do meu desespero.
Mas que merda. Merda pra mim.
Podia ter sido outra coisa. Outra metade. Nem era preciso tanto. Bastava ser um pouco mais em vez de existir para este buraco. Olha ali aquela senhora. Como ela por exemplo. Trabalha sim, e de que maneira, mas pelo menos tem dias em que não pensa nisso. Sai e vai jantar fora. Olha de longe para os seus a crescerem, a envelhecerem. Com alguma paz por vezes. Olha para ela. Fala com este, rí-se com aquele outro a fazer parvoíces com um sorriso na cara. Vai e vem. Vende o sal da vizinha. Recebe uma visita do marido. Dois dedos de conversa. Olha lá para ela. Hoje ele trouxe.lhe um casaco. “hoje sais comigo e nem quero desculpas. Tu e eu vamos ali beber umas espanholas.”
Vês, lá vai ela…
Sabes, ela tem dias em que não quer que a aborreçam. Como eu. Ás vezes não os quer aturar…
Mas sabes….
É só ás vezes.