quinta-feira, julho 10, 2014

Alice..... Ai Alice...

… e Alice, envolvida e revolvida por este cenário que já era parte da sua pele, perguntou ao Gato:
- Que tal este meu casaco? Hoje estou de cinza em homenagem ao teu pêlo…
- Em minha homenagem… O cinza já passou para a minha pele. Já não é apenas uma questão de cor nem de pêlo. Eu sou cinza porque me tenho sentido assim ultimamente. Sinto as cinzas no meu mais profundo. Estarás tu a querer dizer que te vestiste por solidariedade? Empatia? Simpatia emocional? Carinho? Paixão? Será paixão Alice? É que desta feita vais ter um problema.
- Não te estou a entender. O que eu queria Gato, mas que não digo, é que gostava que tivéssemos uma ligação. Daí tentar por várias formas uma aproximação, por vezes em tom de provocação, por vezes uma mensagem subliminar, uma queixa, um sorriso…
- Alice. Percebe-me. Nada me dá mais prazer que te vistas da minha alma. Adoro as queixas, adoro que te sublimes, e adoro esse teu sorriso. O único problema é que precisamente esta última, a minha alma, muda de cor quando surges. Agora que estás aqui, mais bem terias trazido um casaco amarelo, ou laranja. É a cor de como me sinto quando apareces…
- A sério? Tudo bem eu mudo. Mas onde está o problema? É só mudar…
- Mudar faz mudar Alice. A tua sintonia não combina com as minhas ondas sonoras. Percebes Alice, sou de outro planeta. No meu mundo tons de cinza, não há espaço para os outros, as suas vontades, para os seus desejos, e as suas carências geram-lhes insatisfação quando entram na minha esfera. No meu mundo voamos ao sabor do vento. Somos vagabundos. Mudamos cá dentro a todas as horas.
- Gato, e porque não tentas descer para mais perto de mim? Talvez a tua cor surja de debaixo do teu cinza…
- É que já estou acostumado a ele. É cinza mas é o meu. Com tudo o que carrega e desfaz.
- Mas e esse teu sorriso?
- É só um sorriso. Não leva nada debaixo. Só é verdadeiro quando me fazes rir.
- Posso ser eu então, a perder-me no teu cinza?
- Já te perdeste faz muito tempo. Tão cedo não te levantas daqui. Eu não te deixo. É tão bom ter-te por cá…
- Gato, não te percebo…
- Fico feliz. Perdoa-me. Mas sabes, ás vezes abrir o jogo ajuda a mudar as marés. Talvez o faças, talvez não te atrevas nunca.
- Abrir o jogo? Como assim?
- As coisas que não se dizem são como os saltos para o vazio. Ninguém os quer realmente dar, mas quem salta vive melhor. A única vida que temos melhora depois do salto. Seja ele qual for. Os armários das nossas vidas têm de ser abertos. Uma vez abertos podemos sair de lá. De uma vez por todas.
- Armários Gato? Saltos para o vazio?
- Sim. Toda a gente tem armários em que nos fechamos. O problema é quando gostamos do nosso.
- Mas que merda Gato! Decide-te!
- Não consigo.
- Salta caralho!
- Tenho medo.
-Queres um empurrão?
- Não.
- Olha que estou vestida a rigor!
- Também fico feliz. Ficas gira de cabelo solto. Ficas sexy de cabelo apanhado. Perdoa-me de novo. Fica comigo. Deixa-me em paz.
- Gato estúpido…


1 comentário:

  1. “Alice:How long is forever? White Rabbit:Sometimes, just one second.”

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