sexta-feira, junho 28, 2013

No meio está o vazio


O Sr. Flores sente-se vazio no meio do vazio. O nada no nada, o repetir no interior de uma partícula de si próprio, que, por mais pequena que lhe semelhe, acaba ser a maior de todas as não presenças do seu ser. Sente o peso do invisível, a falta pela falta, o desaparecimento pela ausência que se avizinha. É isso o vazio. A ausência. A dor da falta de alguma coisa que até podia ser aqui transparecida, mas não tiraria por isso o sentido á sensação. O Sr. Flores sente uma bola de sabão no lugar do estômago. Sente que pesa menos 10 quilos, O oposto dos abdominais. O Sr. Flores sente o os "nãobdominais". O dia passa por ele como o vento passa pelas montanhas. Apenas passa enquanto o seu olhar mantém-se á velocidade cruzeiro de uma sombra. O movimento das ruas em seu redor não se faz esperar. Os carros passam à mesma velocidade estonteante, enquanto os transeuntes fazem o possível para sentir que nada é em vão. Ao longe os semáforos vão controlando os avanços e recuos da sociedade, enquanto os negócios e outras amostras de trocas se preparam para enfrentar o dia. O Sr. Flores passa por eles, qual espectro, qual sombra, qual torre do relógio que vê tudo sem se manifestar, apenas manifestando a cor das suas janelas, indiferente a quem nasça ou morra. O Sr. Flores sente o desaparecimento como quem sente a faca a entrar pela garganta abaixo. Ele sofre o mal dos males. Ele sente ausência.
O Sr. Flores não é, no entanto um desgraçado, um triste, um sem sentido. O Sr. Flores é um privilegiado. Só ele o sabe, só ele o compreende, ele mais uns poucos neste mundo. Os loucos como ele que enlouqueceram e que sentem a ausência da loucura. Aqueles que escolheram repetir a felicidade milhares de vezes no seu interior, desaparecendo a cada segundo multiplicado, voando desta vida, tornando-se invisíveis aos olhos da camada rochosa do nosso planeta,e das pessoas que o pisam, sem saber o que estão a perder. A intensidade da contração muscular, a pressão do puro prazer, o esforço que nos sai das entranhas, tudo isso tem um lado B, aquele que nos retira parte dos órgãos e nos deixam secos, encovados, á beira da extinção. No entanto, prontos para reviver ao expoente máximo tudo aquilo que nos abrigou da demência, roçando-a com delícia. O Sr. Flores não é de lamentar. O Sr. Flores encontrou aquilo que pensava não existir. E recebeu-o de braços abertos, enquanto se foi desvairando até se desfazer no pó do universo. E o Universo? Esse vai desfazê-lo sem dó nem piedade. Esse vagabundo das estrelas vai desmontar toda e cada partícula do Sr. Flores, numa vã tentativa de descobrir de onde vem o prazer. Esse Universo vai atuar da forma que apenas ele sabe, não pela força que nos traz a natureza, mas por inveja do Sr. Flores. Pura inveja caro Universo. As tuas estrelas todas juntas não chegam aos calcanhares do vazio do Sr. Flores.
Embrulha.

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