Há quem queira
sair daqui, de foice na mão. Há quem saiba que lá
fora é tarde e a noite não se explica sempre que entra,
sem ser de rompante. Aproxima-se e impõe-se. Instala-se e
cumpre o seu dever, a sua promessa. Há quem chame a noite
pelas entranhas do seu âmago na esperança de ver uma luz
que entre na alma sempre que o sol se põe. Há quem se
esprema lá em baixo, ao olhar de quem está confinado ao
seu quadrado de vida, metros mais acima, vomitando num esgar de
curiosidade e prazer, perante a falta de ar da vida, o languir do
tempo que passa... lá fora, nas valas e nos passeios, anda
gente que parece precisar de encontrar qualquer coisa que deixe de
ser e passe a fazer sentido. Todos procuram o mesmo sem esperança
de o encontrar... alguém já o levou e não nos
deixou nada. Pelo menos é o que tentamos fazer crer. Andamos
de cabeça erguida á espera que a esperança se
digne a cuspir-nos em cima... ou não. É o que tentamos
fazer crer...
Ou não. Não.
E Não. E Não. NÃO!
Não para ti
esperança ilusória. Não para ti especulação
de felicidade. Estamos cá e respiramos o teu ar ao rir-te na
cara. Não te procuramos mas sim fugimos de ti sem medo nem
pestanejo. Não estás paciência... nós
estamos. Que o saibas de uma vez por todas. Somos na imperfeição.
Deitamo-nos tarde e regressamos na noite seguinte. Por aqui tudo se
faz do nada. Por aqui alguém ama, alguém mata, alguém
foge. Alguém fica a ver e refugia-se naquilo que deveria ter
feito. Todos o sentem e o reproduzem vezes sem fim, repetindo a dor,
repetindo o prazer, repetindo a repetição.
Não para ti
felicidade. És filha do engano. És filha da puta. És
filha do homem com “h” pequeno. Aquele homem mais homem que já
alguma vez conheceste. Aquele que mente, aquele que engana, aquele
que vibra na sombra e na sabedoria da vida.
Felicidade não nos
assombres. Somos homens e não imagens do fim. Festejamos no
limite da compreensão e amamos como se não houvesse
amanhã. Impingimo-nos no extremo das nossas forças.
Somos agressivos e esfomeados. Somos mais que tu alguma vez pensaste
respirar. Odiamo-nos e temos orgulho nisso. Felicidade, cara amiga,
enviar-te-emos flores no teu funeral. Por aqui deitamo-nos tarde.
muito tarde.
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