sexta-feira, junho 28, 2013

Deitamo-nos tarde


Há quem queira sair daqui, de foice na mão. Há quem saiba que lá fora é tarde e a noite não se explica sempre que entra, sem ser de rompante. Aproxima-se e impõe-se. Instala-se e cumpre o seu dever, a sua promessa. Há quem chame a noite pelas entranhas do seu âmago na esperança de ver uma luz que entre na alma sempre que o sol se põe. Há quem se esprema lá em baixo, ao olhar de quem está confinado ao seu quadrado de vida, metros mais acima, vomitando num esgar de curiosidade e prazer, perante a falta de ar da vida, o languir do tempo que passa... lá fora, nas valas e nos passeios, anda gente que parece precisar de encontrar qualquer coisa que deixe de ser e passe a fazer sentido. Todos procuram o mesmo sem esperança de o encontrar... alguém já o levou e não nos deixou nada. Pelo menos é o que tentamos fazer crer. Andamos de cabeça erguida á espera que a esperança se digne a cuspir-nos em cima... ou não. É o que tentamos fazer crer...
Ou não. Não. E Não. E Não. NÃO!
Não para ti esperança ilusória. Não para ti especulação de felicidade. Estamos cá e respiramos o teu ar ao rir-te na cara. Não te procuramos mas sim fugimos de ti sem medo nem pestanejo. Não estás paciência... nós estamos. Que o saibas de uma vez por todas. Somos na imperfeição. Deitamo-nos tarde e regressamos na noite seguinte. Por aqui tudo se faz do nada. Por aqui alguém ama, alguém mata, alguém foge. Alguém fica a ver e refugia-se naquilo que deveria ter feito. Todos o sentem e o reproduzem vezes sem fim, repetindo a dor, repetindo o prazer, repetindo a repetição.
Não para ti felicidade. És filha do engano. És filha da puta. És filha do homem com “h” pequeno. Aquele homem mais homem que já alguma vez conheceste. Aquele que mente, aquele que engana, aquele que vibra na sombra e na sabedoria da vida.
Felicidade não nos assombres. Somos homens e não imagens do fim. Festejamos no limite da compreensão e amamos como se não houvesse amanhã. Impingimo-nos no extremo das nossas forças. Somos agressivos e esfomeados. Somos mais que tu alguma vez pensaste respirar. Odiamo-nos e temos orgulho nisso. Felicidade, cara amiga, enviar-te-emos flores no teu funeral. Por aqui deitamo-nos tarde. muito tarde.

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