“Só mesmo em Portugal” – dizia uma senhora de idade num canal televisivo daqueles de relevo pela tendência em inflamar as notícias. Desta vez ela própria já vinha inflamada, a notícia, não a senhora de idade. Espalhou-se logo. Foi o caos nas confrarias do sistema, nos restaurantes, cafés, salões de beleza, parques, nas salas de chuto, nos mercados tradicionais. "Só assim é que o povo dança" - diziam os mais sábios. - "Se não forem em situações declaradamente conflituosas, o Zé povinho não existe nunca". Quanto a esse, o próprio Zé povinho, esse tinha as suas opiniões - “ele já estava farto de ouvir sempre a mesma coisa”, “os jornalistas é que têm culpa, sempre com a mesma conversa”, “o ministro disse o que nunca ninguém pode dizer, a não serem os críticos sem moral”, “está desgraçado, ele e todo o partido”, e afins... A oposição, como era de esperar, não tardou a fazer-se ouvir, desdobrando as suas tão habituais críticas a todos e quaisquer movimentos dos adversários. “É uma vergonha para o nosso país” “Não é mais do que a instabilidade que se faz sentir no seu grupo partidário…” e outras idiotices ás quais já nos habituámos. São sempre os comentários e as opiniões de tudo e todos, aquilo que enche de sentido a razão dos média, quanto à sua existência. É a voz maior, a alma das nossas gentes, representada á lupa pelos proprietários das redes informativas. Tudo isto faz dos meios de comunicação, aquilo que gostamos de chamar de “meios de comunicação”, ou talvez devêssemos chama-los de “medos de comunicação”, ou então simplesmente “merdas de comunicação”. No fundo, todas essas instituições não passam de um aparelho destinado a reproduzir as nossas bem aventuradas vozes. Se são tendenciosos, é porque as nossas referidas vozes entoam notas de uma música que provoca um padrão nas espinhas dos jornalistas, padrão esse que, por sua vez, deve corresponder, já por antecipação, àquilo que lhes é obrigado a transmitir, tudo em prol da sua afortunada continuidade na empresa em que trabalham. O azul é azul se der jeito hoje, porque amanhã é amarelo de certeza. Neste caso os jornais iriam portanto elaborar um relatório detalhado de todas as circunstâncias que fizeram chegarmos a este ponto. Isto é enquanto formos azul. Quando passarmos a amarelo, aí o caso será detalhado ao ponto de chegar a parecer uma dádiva dos céus. Por agora chamemos-lhe simplesmente de escândalo. A ver vamos… Voltando ao nosso caso, é mesmo caso para dizer que, se a pergunta foi simples, a resposta mais simples ainda foi. É preciso também acrescentar que o próprio ser humano também tem os seus limites, e há sempre dois lados da balança. O lado acusado e o lado do desgraçado, por mais poderoso que o segundo tenha sido. Também é verdade que se existem baixas e despedimentos partindo do topo, também se deve responsabilizar a base do triângulo, essa completamente instável. Curta e grossa foi então a questão do ensanduichado jornalista: “Sr Ministro, qual a sua posição sobre a crise de despedimentos que enfrentamos?” – grossa mas mais grosseira foi a resposta do ministro humano e francamente desamparado – “Estou-me a cagar para vocês todos. Deixem-me em paz”.
E agora silêncio, que se vai cantar o Fado…
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