quinta-feira, novembro 29, 2007

Mundei-me. E tu?


- Mundei-me por aí. É isso mesmo. Dei a volta ao mundo com a tua ajuda. E agora que sou feita de experiência, nada mais me resta que abandonar-te. Tive de ti o que queria.
O rosto convencido de que iria causar algum efeito devastador, entrou limpo e desabou o seu amar numas poucas frases que supostamente seriam a prova das suas convicções menos correctas. O efeito não surgiu, no entanto, tão dramático como o desejava. No rosto do companheiro com quem tinha passado todos aqueles anos, nada mais do que um simples esgar insolente e simplicista, como quem já ouviu este discurso mais do que uma vez, e que nada de muito diferente esperava. E mais ainda; ao rosto insolente e simplicista, notava-se uma certa leveza que dava a entender que um peso enorme tinha saído dos ombros de quem o carregava…


O melhor da vida, sempre gostei de o frisar muitas vezes, são as relações. Todas elas. As relações que temos com a nossa família, os entes queridos e os mais afastados, as relações com as pessoas que amamos, os amigos, todos aqueles que nos tornam a vida fácil e agradável. Mas mais do que isso, o que torna as relações ainda mais fantásticas, é o detalhe específico que faz com que algumas delas não corram tão bem. As que custam a digerir, as guerras interiores, os problemas, as pessoas que não se deixam compreender, aquelas que nos fazem sofrer, aquelas que nos atraem sem sermos atraídos em retorno, as duras, as peganhosas, aquelas que ardem na alma, essas são deveras especiais. Se a isso juntarmos com carinho as relações que consideramos menos importantes, com os vizinhos, os funcionários dos correios, os professores dos nosso amigos dos quais só ouvimos falar, dos colegas de trabalho das empresas concorrentes, daqueles que ficam na fila atrás de nós e que só conseguimos ver nas poucas vezes que olhámos para trás só para ver o quanto a referida fila tinha se alongou enquanto tivemos á espera, se pensarmos em todas as vezes que, de uma maneira ou doutra, nos cruzámos, trocámos umas quantas palavras, um olhar compreensivo, um esgar repreensivo, se passarmos uns míseros segundos a pensar que do outro lado do espelho alguém está em nós da mesma forma que o esqueceremos ao fim de uns poucos segundos, se fizermos isto tudo, então podemos realmente dizer que provámos a verdadeira liberdade. O poder de sermos, por um respirar apenas, parte de outra carapaça, outro castelo de vidro no qual poderíamos espreitar, faz nos sentir o quanto somos afortunados e felizes. Há quem lhe chame cusquice, há quem queira saber como termina aquele momento que tanta importância teria para alguém. Se juntarmos as pessoas que optam pela cusquice de saber o que sentiu na realidade o parceiro pouco infeliz, ás pessoas que viriam terminar a surpresa da jovem interesseira, se juntássemos todas essas pessoas e as puséssemos a comunicar, então garanto-vos que o final desta cena seria o menos importante …

- Adeus
- Adeus

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