A Laura alugou um jipe. Veio directamente dos USA e alugou um jipe para dar as suas voltas, visitar os seus amigos, há muito que não os via. Lá estava ela, cheia de orgulho, passeando pelas ruas da sua muito mais pequena cidade, nem pensem comparar nada com a sua maravilhosa nova vida nos States. Não é que a Laura seja grande coisa por lá, nunca chegou a poupar nada em especial, nem sequer tem um emprego a tempo inteiro, mas o que interessa é que ela vem da América, e os outros não. Daí o jipe. Símbolo de poder.
O dialecto português aos poucos foi sendo empurrado pelo típico sotaque de batatas quentes na boca, assim como o andar, este muito mais modernizado que o nosso, a autoconfiança presumidamente fortalecida, vai ser um prazer olharem para mim, vão ver só...
Acontece que o jipe poucas voltas deu, por mais repetidas que estas fossem, já que a nossa pequena cidade é isso mesmo, pequena, na sua paz á beira do oceano (fora no verão em que metade da capital sai e pega nos engarrafamentos de lá, e resolve trazê-los para aqui). Tem duas avenidas principais, um passeio de calçada á beira do mar, com bancos e palmeiras, caminho diga-se de passagem, pedestre e tranquilizador, tão puro e simples como nós.
Os amigos esses não mudaram muito, a não ser o facto de estarem todos bastante estáveis na vida, mantendo o prazer da suavidade dos momentos, a calma de existir, o sabor do passar do tempo, e isso reflete-se no seu estar, na cor da sua pele, na leveza do olhar. Tudo isto nada tem a ver com a evolução das sensações que a Laura traz da terra prometida. Para ela tudo isto é sinónimo de pasmaceira e não compreende porque não conseguem ver que ela está muito melhor. Aquilo é que é bom, altas festas, musica e tudo o mais... Mas o tudo o mais, aquilo que realmente torna as pessoas felizes a longo prazo, aquilo que ela nunca conseguiu ver cá, também lá não o viu nem o quis. Limitou-se a entrar na rotina superficial que tinha aqui. Mudaram os tempos, manteve-se a vontade.
Hoje tudo aquilo que há lá também existe aqui, se bem que filtrado o essencial,o mais importante, digamos que o menos vulgar, superficial, etc... Hoje em dia quem souber viver bem fá-lo em qualquer lado. O contrário também acontece. O melhor que a Laura fez foi entregar o jipe apanhar o avião de volta. Aquilo afinal não correu como ela tinha imaginado. Pelo menos lá toda a gente concorda com ela. Lá é muito melhor sim senhor, tens razão Laura. Vai lá curtir vai...
Sem comentários:
Enviar um comentário