Quando era mais novo gostava do festival da Eurovisão. Nunca via a versão portuguesa, aquela que servia para escolher a composição que nos ia representar no festival da Eurovisão, mas lembro-me de, no evento maior, esperar ansiosamente pela canção portuguesa, e também recordo os momentos angustiantes que eram o das votações, e claro a decepção final de nunca chegar a lado nenhum. Lembro-me também do meu pai, habituado aos maus resultados, saber com antecedência que aquilo não iria dar em nada e avisar-me antecipadamente para não voar muito alto porque a queda estaria á minha espera no final do programa. Como sempre dizia-me no fim... “Vês, eu avisei-te que não iam chegar a lado nenhum...”
Este ano, após uma bos dezena de anos sem nunca mais ter visto o concurso, tropeçaram os meus olhos na nossa versão portuguesa, que, após votações que ninguém vê, decidiu por uma canção de uma tal de Sabrina, com o nosso querido e talentoso Emanuel literalmente enfiado “por trás”, feliz e orgulhoso, daquilo que, na minha opinião, ele e todos os portugueses deveriam era ter vergonha. Mas afinal de contas, que merda foi aquela? Que palhaçada de canção, com aquela coisa sem voz nenhuma, e aquele vestido á prostituta barata e mais o coro de cabaré de segunda... enfim, de fugir a sete pés...
Nem me vou pôr a comentar a letra da canção porque sinceramente, não tenho pachorra, é mau demais pessoal, a sério. E vai “aquilo” representar um país... Meu Deus até me falta o ar só de pensar nisso. Ainda bem que o programa hoje em dia também já não é o que era. Tambem o próprio festival Eurovisão desceu de qualidade a todos os níveis. Antes sempre tinha aquele formato de gala com algum cuidado com as letras e a orquestração por parte de todos os envolvidos. Hoje estamos perante uma mistura de circo rasca com bandeirinhas e pipocas á mistura. As canções são, na sua maioria em inglês e a formula utilizada é cus e mamas ao desbarato, com coreografias ensaiadas pelos criadores dos onda-choque e companhia Lda. Não me recordo se foi no ano passado ou no anterior em que ganhou um grupo de rapazes nordicos vestidos á monstros e vampiros, estilo black metal e sei lá que mais, a dada altura o cantor abre a goela e saem, junto com uns grunhidos e uns foguetes vindos do palco, um par de asas mecânicos que este trazia preso ás costas... aind me ri um bom bocado com aquilo.
Não sei em que ponto me deva situar. Não sei o que é pior, se o tipo de programa em que o festival se tornou, se a nossa própria imagem nestes eventos. O certo é que a Sabrina e o Emanuel são um exemplo de Portugal que até se podia dispensar. Não é por nada que os cantores denominados foleiros, e com isto não me refiro a todos os cantores da música ligeira em Portugal, que muito mérito têm, por mais que os tentem apagar do panorama nacional, mas os ditos cantores foleiros só aparecem onde não faziam falta nenhuma.
Só tenho pena que não nos esforcemos por dar apoio a outro tipo de artistas que sempre deram brilho ao nosso país e que vêm constantemente á televisão pedir por serem levados a sério, enquanto que outras porcarias andam por aí a saltitar como se fossem alguma coisa que se preze.
Eu recordo a Eurovisão com prazer, mas hoje em dia se tivesse filhos não os deixava ver tal aberração. O que nos vale é que a canção portuguesa que ainda ia a concurso mas não arrecadava muitos pontos, agora então é que nunca vai lá pôr os pés e ainda bem. Por este andar, e com esta qualidade de gente que vai até ao ponto de fazer fantochadas e tudo o que for mais vistoso possível para aparecer na televisão, no próximo ano o José Castelo Branco pode tentar dar uma perninha a ver se ganha, ele também. Até eu vou aprender dois acordes e vou lá cantar qualquer coisa. Se a Sabrina consegue, digam-me vocês quem é que não pode?
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