terça-feira, agosto 29, 2006

Realidades Alternativas - Parte I - Escrita Aguda - Conheça o Foster

Foster ampara a queda equilibrando a própria forma de cair. Encosta-se como pode á parede e tenta perceber onde fora atingido. Na perna direita, avista o sangue começando a manchar cada vez mais as suas calças. Tenta em vão estancar a ferida com as suas próprias mãos, mas quanto mais tenta, mais sangue se esvai. Procura em seu redor algo que lhe resolva o problema. Acaba por avistar uma toalha, sobre a mesa da cozinha. Torna a observar o local onde a bala penetrara e compreende o que se passa. A artéria foi atingida e não pode perder muito tempo. Talvez seja melhor telefonar a alguém. Ou gritar por ajuda. Esquecendo a toalha por momentos, esforça-se por chegar ao computador. O esforço e sobretudo a dor daí resultante fá-lo pensar em apressar-se. O sangue da sua perna jorra, a dor torna-se mais aguda, a força começa a escapar-lhe. Apesar do computador encontrar-se ali tão perto, junto aos seus pés, o pânico começa a apoderar-se dele. Volta a pensar na toalha e no computador. Recorda numa tentativa de chegar a uma solução, aquilo que acabou de acontecer-lhe, enquanto sente vai ficar sem forças. Tenta concentrar a sua mente noutra coisa qualquer, numa última tentativa de reorganizar os pensamentos. Por momentos consegue pensar nas pessoas, nos amigos, no trabalho, na família que nunca quis e noutra que jamais teve. Tenta lembrar-se de como tudo aconteceu, mas já não consegue. Esforça-se mais. Mais sangue. A dor já não interessa mais. Talvez se pudesse mudar o curso da história em seu favor, seria possível sobreviver aquilo que ele próprio criou. Tinha de tomar uma decisão arriscada. Iria parar e reflectir de uma vez por todas em como faria para sair daquele marasmo, em detrimento do tempo que não lhe restava em quantidade segura para manter a cabeça fria. Optou por esquecer-se da dor, do sangue, do disparo, dos amigos, do telemóvel e esvaziou a mente, numa aproximação á serenidade mental. Fechou o olhos respirou fundo - Calma – Respira fundo e tem calma – Esqueceu por momentos a sua própria sobrevivência, procurando no fundo da sua alma o silêncio e o vazio. Falou para Deus e pediu-lhe calma, uma mente astuta e eficiente. Nunca o tinha feito antes, mas pareceu-lhe que não tinha tentado tudo ainda, nem que tinha nada a perder. São nestas alturas que rezamos para que nos acudam, venha a força que vier, seja ela divina ou não, do céu, do inferno, do vizinho do lado, pouco interessa a origem. Fazemos votos de redenção e a fé é maior que nunca. Mais tarde iremos regressar aos poucos á nossa condição inicial, mas para já o que interessa é a fé do momento, conselheira, auxiliar, poder esse que vem de dentro de nós e cuja finalidade é reunir todas as nossas ajudas, aquelas do presente, passado e futuro, e conjugá-las num único microsegundo, um instante que terá de ser suficiente para nos pôr a caminhar outra vez. Não se sabe quanto tempo manteve os olhos fechados mas precisava de controlar todos os seus impulsos, esses movimentos primitivos que fazem dele um ser vivo, e substituí-los por aqueles que são dignos de um homem a sério. Foster parou como nunca tinha o seu corpo parado antes. Preferiu deixar o sangue esvair-se, em troca de um estado de alma sereno e eficaz, que lhe permitisse resolver a sua situação. O físico contra o mental. A dor contra a loucura, com uma pitada inverosímil de fé e de qualquer episódio da Twilight Zone. A seu tempo lá iremos porque se estás assim Foster, então a culpa é tua…

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