O Rodrigo de 10 anos tem um telemóvel. Os pais compraram-lho porque era uma coisa que ele queria muito, e, agora falando sério, é algo muito importante porque permite comunicar com ele para saber se está tudo bem, para o caso de não sabermos por onde anda, faz muita falta mesmo. Na escola o Rodrigo mostrou com muito orgulho, o magnífico aparelho de alta tecnologia que agora possui. Ligou para todos aqueles que também tinham um telemóvel, mudou os toques, enviou mensagens, memorizou todos os números que conseguiu. Logo o saldo inicial acabou, e quando a sua mãe, orgulhosamente, ligou para saber se estava tudo bem, o menino pediu-lhe logo que lhe carregasse o cartão com, pelo menos, mais 25 euros. A mãe de início não concordou com tal quantia mas perante a cólera do filho, acabou por fazer um carregamento de mais 15 euros. Depressa o saldo chegou ao fim, e os problemas começaram a surgir quando, em casa, os pais do Rodrigo tentavam em vão convencê-lo a chegar a um acordo quanto ao montante e ao período em que lhe iriam fazer tais carregamentos. “é muito importante estarmos sempre em contacto com ele” – explicava a mãe junto das amigas. “… Importante era que ele desse valor á escola. Já chumbou 2 vezes…” – comentavam entre elas as amigas (da onça). O Rodrigo tinha tudo: a consola, a bicicleta, o televisor no quarto, o leitor de dvd, brinquedos e mais brinquedos… Tudo aquilo que ele sempre quis. Exigia sempre mais, transformando o desejo em necessidade, instrução tal que os pais recebiam com o maior dos interesses, fazendo-lhe imediatamente a vontade, como se educar fosse sinónimo de prazer imediato. Rodrigo era na realidade aquilo que eu tinha todo o prazer em chamar de gordo burro, facto esse que me valeu muitas repreensões e castigos. Tudo aquilo deixava-me ferido de raiva. Não tinha nem telemóvel, nem televisão no quarto, e a minha bicicleta já estava a ficar pequena demais. Tinha boas notas na escola, mas nada disso era sinónimo de prendas quando os meus pais, mesmo se tendo uma situação mais confortável do que os do Rodrigo gordo, achavam que não tinha necessidade de bens do género para ser feliz… Odiava-o com todas as minhas forças. Quando um dia tivesse a oportunidade de magoá-lo iria fazê-lo sem pensar duas vezes...
Um dia pedi ao meu pai um telemóvel. Escusado será dizer que a resposta foi um redondo NÃO, ou melhor um "deves estar mas é parvo..." que nem sequer me fez ferida, já que o tiro que era a minha pergunta, tinha sido enviado com a derrota presa á bala, de qualquer forma tinha sido apenas para testar que não estava enganado. Os meus pais não eram os pais do burro gordo do Rodrigo. Costumava ouvir os adultos dizer que o Rodrigo iria acabar mal, que era um mimado, daqui a nada seria uma mota, depois um carro, que os pais dele iriam ceder a tudo até ficarem sem um tostão, e que provavelmente acabaria por ser um marginal sem nada na cabeça até fazer uma asneira e destruir a própria vida. Tudo isto e muito mais não compensa o facto dele ter tudo aquilo que gosta e eu não. Nunca me convenceu essa história. Por mais bonzinho que seja nunca vou ter o que o Rodrigo tem e o resto é conversa! Quaquer dia apanho-o...
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