segunda-feira, dezembro 03, 2007

3001 Odio seia nem terraço


Para quem previu o fim do mundo na passagem para o ano século XXI, já ide atrasados sete anos meus amigos…
Recordo-me da balbúrdia que foi esse final de ano, com a história do bug informático que nunca chegou a acontecer. Recordo-me também que foi o ano em que os videntes tiraram a barriguinha da miséria. Nada disso tem a mínima importância.
Gosto do mês de Dezembro. Acho que anda tudo meio maluco por causa das compras do natal mas não deixa de ser um mês giro. Por essa razão decidi escrever este texto a tender para o lamechas… aqui vai


O Sr. Márius tinha medo de morrer. Estava o 3º milénio no seu final e tudo apontava para o desastre, ou talvez não. As notícias, os jornais, todos os cálculos previam um descalabro no sistema integrado de implante facial, com as falhas de ligação nas bases de Marte e Júpiter. Dizia-se que na Lua, os implantes sobreviveriam, já que a radiação dos satélites contornava esse ponto. Aqui na terra, as mesmas interferências deveriam fazer-se sentir nos sistemas de comunicação e de transporte aéreo, tanto públicos ou particulares, nomeadamente os serviços públicos e agências de transportes. As pessoas andavam assustadas, muitas cirurgias para remover o engenho que tinha ligado o mundo, por vias ilegais se fosse necessário, lá iam eles, desse por onde der. Os funcionários do sector público esses não podiam fazer nada a não ser desligar o sistema a partir da central, e aí ficar sem contacto com a sede, o lar, as dependências financeiras, os acessos gratuitos e os passes urbanos, marginais num mundo marginalizado, limitado a números e indícios de progressividade, cifrões e mais cifrões. A esposa do Sr. Márius andava atarefada á procura de qualquer alimento não sintético, para garantir uma mesa vistosa para a noite de passagem de ano. Problemas ou não, temos que levar as coisas normalmente. Ninguém sabe o que vai acontecer mesmo…
O Sr. Márius olhou para a filha adormecida no sofá. Na parede visual, os desenhos animados tinham-na posto a dormir. Olhou pela janela, a vida estava igual a si mesmo, a escuridão do anel protector parecia prestes a recolher-se, a noite chegava, com o frio tropical, e as pós radiações que estavam mais altas de dia para dia. Era um privilégio ter um apartamento com janela e paredes duplas. Era mais do que muita gente podia pagar. No 145º andar e o posto de trabalho 40 pisos mais abaixo, o comodismo era perfeito.

Sentou-se junto da sua filhota, acabando por adormecer… Sonhou com os filmes de amor que davam na parede, coisas do tempo em que o mar estava acessível, pessoas saiam á rua para dançar a valsa naquela divisão política chamada Áustria, jogos era celebrado na rua, com tochas e luzes, sonhou com o branco do cimo dos montes, com as planícies do continente quente, e dos pés nus a correr atrás da vida e a contar as histórias do século XXI. Sonhou que era grande e veloz, sonhou que era velho e encurvado. Sonhou que sorria, sonhou que era diferente, leve e mais feliz.
Acordou sobressaltado com o barulho da parede visual. Via-se uma família a jantar em torno de uma mesa de madeira, cores e enfeites por toda a sala, pão e carne na mesa, doces e sorrisos. Um sonho.

E pronto. Está feita a minha previsão para o ano 2999.

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