sexta-feira, agosto 10, 2007

Realidades Alternativas - Parte X - Troca por Troca


Um dia Linda Freedom encontrou-se com ela própria, desta vez senhora, à sua frente, mais especificamente Sra Linda Newown, versão idade 42 anos, vestido comprido, cabelo apanhado com a ajuda de um gancho, sapatos de salto alto, malinha de mão de pele e de marca conhecida, transmitindo sucesso financeiro, juntando-se abundância na segurança e equilíbrio no balançar, não fosse, no entanto, os rasgos de preocupação com que nos prometia, olhando para a sua versão adolescente, qual espelho mágico de circo ou de feiras popular, sombra e pastilha elástica, T-shirt, sapatilhas e mochila às costas, símbolo da instabilidade da própria idade, receio versus prazer juvenil, que invejava e era invejada de volta. Ambas se viram uma na outra, perguntando se estaria aquilo deveras a acontecer, teria a sorte finalmente batido àquela porta, com tanto poder, vendo-se a mais nova com a informação de que estaria viva e segura por essa altura, algo que nem a própria certeza poderia garantir, por meio de tantos sonhos, desilusões e incertezas em busca de respostas, e que recebe em troca o desequilíbrio mentais e misturas explosivas de sexo, álcool e outras experiências cada uma mais alucinatória do que a outra. LINDA, Newown de seu nome daria tudo para voltar a ser quem era, mantendo a capacidade de recordar tudo aquilo que lhe tinha sucedido até então. O que ela não imagina é que tudo contrabalança no baralho de cartas da realidade. Basta um segundo de inexactidão, um grão de areia num prato fundo de pureza, um milímetro apenas, desviado do ponto de chegada, a muitos quilómetros de distância no universo, para que tudo se desfaça em mil pedaços por causa das chamadas pedrinhas que desviam toda a engrenagem. O cenário resumia-se a um silêncio absurdo entre as duas, um tremer das almas, uma sensação de mal estar e de medo aliado ao sobretudo da surpresa, sendo os dois lado da mesma moeda, doendo fosse coisa boa, ou fosse coisa má. O atordoado silêncio depressa se transformou em formigueiro, e daí a areia foi num ápice, e pronto, o mundo desabou. Nenhuma se atreveu a falar mas tal não era necessário. Da voz da alma surgiu a contemplação mútua, dialogo surdo de quem sabe exactamente o que é, quando e porquê. A possibilidade de alguém poder se encontrar com a sua própria pessoa a partir do futuro era por si já, uma lotaria impossível. A mesma sorte de alguém cruzar-se com o seu passado não fica de forma alguma atrás. A probabilidade juntamente com a veracidade da acção confere a este pesar o seu ar celestial. Mas o pior veio depois. Se acrescentarmos a tudo isto o facto de dois planos da mesma linha se tocarem e se reunirem com o tempo, crepe chinês chamaram um dia, faz deste momento algo ainda mais inverosímil. Ambas as Lindas tiveram a possibilidade, por meros segundos, de tomar a decisão e trocar as respectivas posições. Uma troca de versão do corpo, um intercâmbio da mesma alma. Uma delas tem a possibilidade de regressar à juventude, já a outra avançará sem ter experimentado a luta incessante de quem procura trabalho, casa, família, aquilo que alguns gostam de chamar de felicidade, paz interior, outros não o entendem assim. Juntas pensaram o mesmo. Por mais injusto que seja o facto de estarem ali e que a escolha venha a beneficiar uma mais do que a outra, o facto de estar ali era desde já algo de só por si imensurável. Afinal de contas quem consegue isto? Quem tem esta oportunidade? Nem sequer se deve ponderar isto. Trocam-se assim os tempos, os hábitos, mudam-se as mascaras e leva-se a alma para algo nunca imaginado antes. O medo, a viagem, e pronto. Aqui estão duas versões entre milhares possíveis. Uma realidade não afecta a outra, a não ser a lembrança, a memória, ou talvez não. A ligação está lá pelo menos…

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