quinta-feira, dezembro 06, 2007

Morte Certa – ameaça sem Internet.


10h33 da manhã

Querido Mundo,
Estou sem Internet. E agora? No escritório anda tudo em negação, como se nada se tivesse passado, mas já se sente o ambiente de medo que aqui reside. Tudo começou por volta das 9h30 quando o sistema informático começou a falhar. Por entre os colegas, primeiro veio a dúvida, depois a resignação (visto pensarmos que iria durar pouco tempo), mas, após alguns telefonemas por parte do nosso responsável informático, chegou-se á conclusão que a coisa realmente estava feia, e aí meus amigos, foi o caos, o salve-se quem puder… O patrão lá se dignou a sair do escritório, provavelmente por falta de coisas para fazer, tão impotente quanto nós, e um olhar esguio em relação ao coitado do técnico, que de nada servia naquele momento que se pode considerar de puro terror para ele.
O que vem a seguir é o tradicional “enchimento de chouriços”, ou seja, tudo aquilo que fazemos para nos entretermos uns aos outros, enquanto a “luz” volta. O típico ar de falso descontraído, por parte dos chefes de secção, com as mãozinhas nos bolsos, como quem sabe que tem peso na empresa, mas, quando se acaba o contacto com o exterior, nada sabe, nada diz, nada lhe escorre pela cabecinha fora. Aprecio bastante os vários secretários, com as suas canetinhas que servem para coçar a cabeça, a olhar para o balão, com ar desligado do mundo em torno, bom – vou aproveitar para ir à casa de banho – ou então – olha já que não posso fazer muito vou mas é beber um cafezinho (como quem diz que esta é a oportunidade que nunca tem, devido ao facto de estarem sempre tão atarefados) – olha e já agora vou contigo… e bla bla bla…
Tudo uma cambada de fingidos, digo-vos eu. Qualquer dia ganho coragem e digo-lhes. Encosto-os á parede. Admitam seus tansos! Admitam que, a esta hora, se tudo tivesse a correr normalmente, estariam no HI5 a espreitar as fotos dos contactos novos, ou no YouTube a ver os vídeos dos Gatos Fedorentos, ou no Messenger a conversar com os amiguinhos! Pensam que me enganam com a vossa conversa de chacha! E o boss a mim também não me engana, eu sei que ele joga “Football Manager“ online, e que o técnico de informática está triste porque está a perder mais uma oportunidade de visitar a sua personagem no “Eve Online”. Eu sei disso tudo sua cambada de viciados!
E agora heim? Como é que vai ser isto? Pensam que ninguém se apercebe que um dia de trabalho chega para fazer tudo aquilo que está em atraso, mas que não foi ainda concluído por causa das divagações na rede? Porque é que não aproveitam para pôr as coisinhas em dia, e amanhã já têm mais tempo para brincarem. O que é que acham disto?

Ok.ok. vou-me acalmar… tb faço o mesmo.
Espera… parece-me que…

PESSOAL !!!! (grito eu todo contente) JÁ VOLTOU A INTERNEEEEEEEEEEEEEET!!!!!

terça-feira, dezembro 04, 2007

Realidades Alternativas - Parte XII - Lara Lina

A opinião geral era essa. Lara Lina gostava de garrafas. Todo o género de garrafas, pequenas, grandes, garrafões, desde que fossem de vidro. Nunca ninguém soube o porquê de tanta admiração por um objecto de vidro e de conteúdos uns mais líquidos do que outros. Só sabiam que ela gostava, e isso chegava-lhes. Bastava que a fizesse feliz para que o resto da aldeia o fosse também. Afinal, cada qual com a sua pancada, havia quem gostasse de moedas, selos, blocos, cromos, sacos, latas, folhas de árvore, esferográficas, relógios… Lara Lina gostava de garrafas, do formato das garrafas, do som que podíamos retirar delas se soprássemos no gargalo de um determinado ângulo, a uma determinada força. Era essa a opinião geral. O que não sabiam, era que o que tornava as garrafas tão especiais no mundo da Lina, era que um dia, pareceu-lhe, que uma delas tinha suspirado. Foi algo tão rápido que nem teve tempo de se aperceber bem aquilo que tinha acabado de ouvir. Estava ela tranquilamente a brincar no chão da sua sala, com todo o tipo de brinquedos caseiros, cordéis, rolos de cabelo, uma boneca muito estragada mas de que gostava muito, e aquela garrafa vazia. Lá fora na varanda, a rádio estava ligada no programa favorito do seu pai, enquanto este lia o jornal e fumava o seu cachimbo. O dia prometia um ritmo lento até ao seu final. O suspiro da garrafa deu-se no preciso momento em que Lara pegava na sua boneca e tentava pôr-lhe os rolos no cabelo. Lara sobressaltou, procurando em seu torno a raiz daquele som. Teria sido impressão dela apenas? Se o som lhe proporcionou algumas dúvidas, já a brisa não lhe deixava espaço para manobrar fora dali. Em poucos segundos a sua atenção focou-se na garrafa ali plantada, baça, a olhar para ela. Lara estagnou. Pensou em chamar o pai, mas acabou por não o fazer. Pegou na garrafa e observou-a. Não havia dúvidas. Estava baça e agora húmida. Lara achou que o que aquela garrafa estava a pedir era companhia. Achou que tinha esse direito, e com os anos a sua vida teve sempre a tender para a companhia. A companhia dos amigos, a companhia dos vizinhos, a companhia das pessoas que se sentiam sós. A companhia da companhia, juntamente com o estranho prazer das garrafas, coloridas, vazias ou meio cheias. Qualquer dia haveria de ouvir uma delas. Seria a prova de que ela tinha de facto ouvido uma garrafa a queixar-se.
Um dia aconteceu. Lara Lina cresceu e fez-se bela. Conheceu a companhia de um homem que a quis ouvir falar das suas luas e sois, das suas divagações e desejos. Fez-lhe companhia quando Lara não lhe pediu. Esta sentiu que pedir seria algo que não era mais necessário. O homem olhou para as suas garrafas e os seus sopros uniram-se. Ao sopro das garrafas juntou-se-lhe o do vento e do vidro nasceu o espelho. Do espelho fez-se a luz e da luz o momento. Lara nunca mais procurou a paz dos seus objectos, como quem procura a paz nas repetições. Havia quem gostasse de moedas, selos, blocos, cromos, sacos, latas, folhas de árvore, esferográficas, relógios. Havia quem gostasse das garrafas e havia quem gostasse apenas de gostar. Várias versões da mesma coisa num mundo em que todas as coisas se repetem com poucas semelhanças, mundo esse em que todas as pequenas diferenças fazem d’alguém a razão da sua semelhança.
Um dia, finalmente, repetiu-se a cena. Durante uma ida á cozinha, Lara tropeçou num momento que tinha esperado durante anos e anos. Nesse dia Lara virou-se na direcção do suspiro, quase por reflexo, mas a sua alma não tomou nota disso. Já não precisava.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Peço immensas desculpas por este momento de baixo nível...

... mas é só para dizer que os Além Merd.. Mar têm uma música nova. Chama-se "Deixa-me olhar". Mas afinal, esta gente tem quantas canções?

P.S: Deixa-me olhar,
deixa-me adivinhar,
que aiiiinda vamos gramar com uma versãozinha de natal...

dito isto vou desinfectar o meu teclado.
Sorry teclado.

3001 Odio seia nem terraço


Para quem previu o fim do mundo na passagem para o ano século XXI, já ide atrasados sete anos meus amigos…
Recordo-me da balbúrdia que foi esse final de ano, com a história do bug informático que nunca chegou a acontecer. Recordo-me também que foi o ano em que os videntes tiraram a barriguinha da miséria. Nada disso tem a mínima importância.
Gosto do mês de Dezembro. Acho que anda tudo meio maluco por causa das compras do natal mas não deixa de ser um mês giro. Por essa razão decidi escrever este texto a tender para o lamechas… aqui vai


O Sr. Márius tinha medo de morrer. Estava o 3º milénio no seu final e tudo apontava para o desastre, ou talvez não. As notícias, os jornais, todos os cálculos previam um descalabro no sistema integrado de implante facial, com as falhas de ligação nas bases de Marte e Júpiter. Dizia-se que na Lua, os implantes sobreviveriam, já que a radiação dos satélites contornava esse ponto. Aqui na terra, as mesmas interferências deveriam fazer-se sentir nos sistemas de comunicação e de transporte aéreo, tanto públicos ou particulares, nomeadamente os serviços públicos e agências de transportes. As pessoas andavam assustadas, muitas cirurgias para remover o engenho que tinha ligado o mundo, por vias ilegais se fosse necessário, lá iam eles, desse por onde der. Os funcionários do sector público esses não podiam fazer nada a não ser desligar o sistema a partir da central, e aí ficar sem contacto com a sede, o lar, as dependências financeiras, os acessos gratuitos e os passes urbanos, marginais num mundo marginalizado, limitado a números e indícios de progressividade, cifrões e mais cifrões. A esposa do Sr. Márius andava atarefada á procura de qualquer alimento não sintético, para garantir uma mesa vistosa para a noite de passagem de ano. Problemas ou não, temos que levar as coisas normalmente. Ninguém sabe o que vai acontecer mesmo…
O Sr. Márius olhou para a filha adormecida no sofá. Na parede visual, os desenhos animados tinham-na posto a dormir. Olhou pela janela, a vida estava igual a si mesmo, a escuridão do anel protector parecia prestes a recolher-se, a noite chegava, com o frio tropical, e as pós radiações que estavam mais altas de dia para dia. Era um privilégio ter um apartamento com janela e paredes duplas. Era mais do que muita gente podia pagar. No 145º andar e o posto de trabalho 40 pisos mais abaixo, o comodismo era perfeito.

Sentou-se junto da sua filhota, acabando por adormecer… Sonhou com os filmes de amor que davam na parede, coisas do tempo em que o mar estava acessível, pessoas saiam á rua para dançar a valsa naquela divisão política chamada Áustria, jogos era celebrado na rua, com tochas e luzes, sonhou com o branco do cimo dos montes, com as planícies do continente quente, e dos pés nus a correr atrás da vida e a contar as histórias do século XXI. Sonhou que era grande e veloz, sonhou que era velho e encurvado. Sonhou que sorria, sonhou que era diferente, leve e mais feliz.
Acordou sobressaltado com o barulho da parede visual. Via-se uma família a jantar em torno de uma mesa de madeira, cores e enfeites por toda a sala, pão e carne na mesa, doces e sorrisos. Um sonho.

E pronto. Está feita a minha previsão para o ano 2999.