quinta-feira, junho 14, 2007

Maravilhas da Bossa Nova - Regra Três



Vinícius de Moraes e Toquinho

Um dos estilos de música que mais aprecio vem do Brasil. É a Bossa Nova. Primeiro porque exige poesia, depois pela sua harmonia, e por último, e para mim mais importante, porque não é muito fácil de executar na guitarra ou na viola como se costuma dizer em Portugal, ou no violão como dizem os nossos comparsas da América do Sul. O facto de não ser fácil de tocar permite progredirmos enquanto tocamos. A regra três é a regra que diz que menos vale mais, e é directamente direccionada para os males de amor que resultam em traição. Do Brasil também vem a ideia que existem dois tipos de homens. Os fieis e os infiéis. Também se diz que no Brasil existem 14 mulheres para cada homem. E visto que alguns homens lá são fieis, a probabilidade de 14 mulheres sobe para os 27 para quem não tem a consciência da união ligada à fidelidade. Tudo isto foi-me explicado pela população local,aquando de uma viagem à Bahia.
Hoje deixo-vos com esta canção do grandíssimo poeta Vinícius de Moraes, e do majestoso guitarrista Toquinho. Para os instrumentistas, deixo-vos igualmente os acordes. Divirtam-se a tentar tocá-la e aprendam com ela. Qualquer dia divulgo a minha versão pessoal. Ou talvez não.

Am -- B/A -- E/G# -- E5+ -- E -- A7
Tantas você fez que ela c ansou
A7/G -- Dm/F -- Dm7
Porque , você rapaz
G -- Abº -- Am7
Abusou da regra três
F#m7/5- -- B7 -- E -- E7/9-
Onde m enos vale mais
Am -- B/A -- E/G# -- E5+ -- E -- A7
Da primeira vez ela chorou
A7/G -- Dm7
Mas resol veu f icar
Dm7 -- G7
É que os momentos felizes
C7+ -- F7+ -- F#m7/5- -- E7 -- A7/4 -- A7
Tinham deixado raízes no seu pena r
Dm7 -- G7
Depois perdeu a esperança
C7+ -- F7+
Porque o perdão também cansa
F#m7/5+ -- E7 -- Am
De per -------do- ---ar
Bm7/5- -- E7 -- Am
Tem sempre um dia em que a casa cai
Em7/5- -- A7/5+ -- Dm7
Pois vai curtir seu dese rto vai
Dm7 -- G7
Mas deixa a lâmpada acesa
C7+ -- F7+ -- F#m7/5- -- E7 -- A7/4 -- A7
Se algum dia a tristeza quiser en trar
Dm7 -- G7
E uma bebida por perto
C7+ -- F7+
Porque você pode estar certo
F#m7/5- -- E7 -- Am
Que vai ch o--rar

A Janela vê-se da vida


A empresa onde trabalho mudou de instalações. Estamos segundo os entendidos, mais próximos dos potenciais clientes. Após a confusão que é a época das mudanças, e após algum período em que a poeira assenta, chegamos mais ou menos onde queríamos. O local onde fui parar é aquele por onde entra a gente e toda a gente, sai o pessoal, ao longe passam carros, ouço as conversas que vêm de fora, discussões que vão e vêm, o vento, o sol, enfim, a vida em geral. Também tenho corredores atrás de mim, e portas ao meu lado, mas é mais propriamente aquilo que me chega do exterior que me agrada. É a minha televisão privativa, essa que me transporta para o mundo dos outros, das 10h00 às 18h00, de segunda à sexta. Acho graça ao meu cantinho, onde ouço parte das conversas que terminam à minha secretária, das palmadinhas nas costas que reservam surpresas, à hora de fechar a porta, das conversas que se criam nas mesmas costas das pessoas. É fascinante o que as pessoas gostam de mostrar, e aquilo que realmente são quando um vidro as separa de quem acabaram de contactar. A vista daqui dava para fazer um filme onde vemos primeiro a criança, depois o adolescente e finalmente o homem. As suas desventuras resumidas nos escassos momentos em que o vemos entrar no escritório, a sua vida gravada no hall da recepção. Frustrações, alegrias, raivas e amores, todos têm de sair e entrar passando por mim, cada um ao seu ritmo, o seu swing, cada qual a sua própria personalidade. Lá fora as pessoas acenam umas às outras, encostam os carros para passar o pouco tempo disponível numa alegre cavaqueira, um cigarro talvez, antes de retomarem o seu frenesim diário. Muitas vezes encontro trabalhadores sentados debaixo do magnífico carvalho á beira da estrada, em frente da minha moldura, e à sombra dos seus penares e pensamentos, qual western americano filmado nos limiares de Alicante, com a poeira no ar e o calor a fazer-se sentir a partir do asfalto. Gosto desta minha televisão privada e mais natural pelo seu lado ao mesmo tempo inverosímil e trágico. O vento e a chuva são o sal e a pimenta que vão remodelando os espíritos quando estes acabam por entrar e brandir alto tudo aquilo que os traz por cá. Sou a testemunha do tempo dentro do próprio tempo. Por vezes tenho de vir cá quando tudo está em silêncio. Aí sinto-me apenas parte da paisagem, mas consigo desvendar os mistérios da própria inexistência do som. Compreendo então que somos apenas passageiros desta grande navegação. Amanhã os nossos problemas serão esquecidos e outros surgirão, e mais outros e mais outros. Dentro de 100 anos estarão outras ideias a surgir, outros pontos de vista, a empresa onde trabalho provavelmente nem será recordada por aqui. Este local continuará no entanto desta forma olhando para nós como eu e a minha janela olhamos para o mundo, vislumbrando com satisfação e distanciamento, o mal alheio, a felicidade de terceiros, a beleza dos movimentos, o burburinho, as misturas, os sinais dos tempos.

Realidades Alternativas - Parte IX - 20 minutos menos 9


Tenho vinte minutos para escrever qualquer coisa hoje. Ainda não o tinha feito e o meu cérebro estava a pedir descompressão total. Gosto mesmo disto. 5…4…3…2…1 e lá vou eu! Ponho os dedos no teclado e deixo-os dançar, bailar, saltitar á vontade. Saem-me imagens da alma que se transformam no ecrã do computador num pássaro verde e roxo que grita para mandar calar o público antes de iniciar a sua anedota, ou num banco de jardim que chora lágrimas de crocodilo. Isto assim é bem mais fácil quando não faz sentido algum. Tal qual um cozinheiro em busca de algo novo posso ir buscar uma pitada de sal e acrescento uma cor nova às minhas letras. Pode ser carmesim. hoje vamos escrever em carmesim. Se me faltar a inspiração posso ligar o rádio, ou então escolher uma música mais sentida, mais tradicional, mais integrada no meu ser. Ma fazer isso seria perder minutos e quero ter isto acabado daqui a… 17 minutinhos… Tive de fazer uma pausa porque fui requisitado, também qual a probabilidade de não sermos requisitados, em pleno trabalho, em 20 minutos? O que vale é que parei o relógio, de modo que posso recomeçar a partir daqui. A escrita é isto mesmo, inconstância, dúvida e interrupções. Enfim… continuemos. Ora hoje tenho de dizer que nem tudo corre mal. Já tive dias piores, no entanto este não é um deles. Tudo me te corrido pelo melhor, mas também mereço não é… Onde é que ia? Sim, portanto ia escrevendo até que me mandassem embora daqui. Dizia eu que o meu banco de jardim chorava lágrimas de crocodilo enquanto o pássaro se preparava para contar uma anedota, não sem antes, irritadíssimo, mandar calar todas as pessoas em seu redor. A menina dos olhos de batata doce, a panela voadora com termóstato de verniz, a toalha de praia com buraquinhos para espreitar, ora os grãos de areia se estiver virada para baixo, ora o sol e as nuvens caso se encontre, literalmente, de papo para o ar. O leite-creme assustado, correndo para sua casa antes que passasse ali o João Comichão, que era doce por bolos e resmas de papel, não fosse ele andar ali por perto. Hmmmmmmm… talvez o meu cérebro precise de descomprimir mais do que eu pensava. Não me envia coisa com coisa nem sentido nem retro marcha, nada de jeito de facto. Mas que sabe bem isso sabe. É um prazer podermos fazer o que queremos, sobretudo quando não temos de querer nada daquilo que fazemos. Os olhos colam-se ao céu, a imaginação atrapalha-se com garra, sempre feliz, sempre mordaz. – nota – não tomo nenhum tipo de produto químico, não tomo bebidas alcoólicas a não ser quando vou a qualquer lado numa de diversão e descontracção, não fumo e nem sequer bebo café. Isto não é o resultado de nenhuma alteração hormonal (que eu saiba a crise dos 30 não existe), nem algo de forçado (não estou a sofrer nenhum tipo de pressão, coerção de que género for). Só o tempo hoje é o meu limite….
Toda a gente deveria ter tempo para fazer somente aquilo que o cérebro manda, á velocidade que quiser. Dar a volta ao mundo em 5 segundos, parar nas Bahamas e beber um suminho, e voltar ao trabalho. Devia haver uma máquina que permitisse entrar e numa hora passarmos uma semana de vida. Ao sair da máquina tinham passados escassos minutos para os outros, já nós estávamos cheios de saudades deles, de braços abertos e olhos rasos… Acho que desta vez é que me passei mesmo.

Tempo - 12 minutos (sobraram-me 9, acho que vou apanhar ar)

Chuva no "Deserto"


Caros visitantes do Algarve:

É só para avisar que está de chuva, e parece que está para durar, por isso é melhor ficarem em casa, senão vão aborrecer-se aqui, sem poder ir à praia. OK? Quem vos avisa vosso amigo é...

Chegou cheio de remendos...


Chegou-me aqui cheio de remendos na alma em forma de desculpas pela fraca qualidade do serviço prestado, e entre estas e outras perguntas sobre o mesmo trabalho que estava a realizar na nossa empresa, acabou por pedir-me se podia deixar o seu número de contacto, para o caso de termos alguma coisa para ele, alguma vaga que abrisse por cá, trabalhos de qualquer género, mais na área comercial. Sabendo que a área comercial é aquela mais em voga nestes últimos tempos, e sabendo igualmente que é das áreas mais agressivas, com as histórias das comissões e dos recibos verdes e tal, percebi que a coisa pelos seus lados não ia bem e que, mais cedo ou mais tarde, iria mesmo dar para o torto. Também reparei que este senhor já tinha uma idade algo avançada e, sem querer faltar ao respeito por ninguém, não o conseguia ver a aprender outro ofício que não o dele, noutro local com a qual nada tinha a ver, sobretudo num sítio como este em que falam-se as línguas todas excepto o português. O que vai ser dele quando os problemas começarem a bater-lhe à porta? Onde está a segurança que precisamos a esta altura da nossa vida? Para que raio serve trabalhar neste país? Porque razão devemos nós ser justos e honestos se é para chegarmos a este resultado? Possivelmente se este senhor tiver filhos, será esta a lição que lhes irá dar. Sinto que, mais cedo ou mais tarde algo vai acontecer a este país. Algo que não me parece que seja muito bom. Alguém vai passar-se da cabeça, qualquer dia o azedo de hoje vai saber a coisa boa amanhã. Vamos ter saudades dos velhos tempos em que estávamos em crise. O que mais me ofende é o facto de a maioria das pessoas, mesmo na sua própria miséria, continuarem a defenderem ideais que não passam de ver televisão o dia todo e viver para o clubinho de futebol. Pagamos para ver a bola como quem respira. Pagamos para que os morangos continuem mais 10 anos se for preciso. Pagamos ao Zé Paneleiro para fazer figuras tristes na televisão. Pagamos ao rico para aparecer com a sua conversa de merda de chanel aqui, e diamantes ali. Pagamos a estupidez para aparecer nas festas. Pagamos aquilo que deve ser desprezado. Temos orgulho quando deveríamos era ter vergonha. Temos sono em vez de alegria, temos fome de coscuvilhices em vez de fome de amor e felicidade. Somos felizes na nossa própria fome.
O tal senhor deve ter acabado o seu dia de trabalho e foi para casa. Deve se ter enfiado no sofá e ligado a televisão. Provavelmente pensou na vida, no buraco em que está prestes a estar enfiado, depois desligou a sua alma por um bocado e foi buscar uma bebida ao frigorífico. A sua mulher provavelmente estaria na cozinha a fazer o jantar. Olhou para ele e sorriu com carinho. Beijou-o e consolou o seu penar. Vai correr tudo bem querido, vais ver.

sexta-feira, junho 08, 2007

Bolero de Ravel


Está praticamente começada a época de caça ao turista aqui no Algarve. Melhor seria dizer, a caça à paciência do pessoal que trabalha por cá, nos meses de verão. Além das pessoas que vivem aqui o ano todo, essas já com larga experiência e toneladas de sorrisos empacotados, sempre prontos a responder com calma, tenha paciência etc e tal…, também há os que preferiam que estes meses nunca acontecessem. Um dos primeiros dias de “verão” deste ano foi o de ontem, feriado municipal, em que por azar dos azares até teve vento e frio, pelo que não deu para os meninos e as meninas irem à praia, resultado: shopping com eles. Foram filas de trânsito para lá, foram filas de trânsito para cá, apitadelas e irritações. Enfim, férias a sério, como é o costume. É claro que quem sabe que em dia de férias, se o tempo não permitir ir para a praia, à partida não mete os pés no shopping. Mas enfim, é a vantagem de se conhecer a zona em que se vive. Eram por volta das 14 horas, precisei de ir ao supermercado. Lá fui e devo dizer que em cerca de 200 metros assisti a uma ultrapassagem mal feita, que resultou a buzinadelas e insultos, um peão que teve de correr para chegar vivo ao outro lado da passadeira, e à tão apreciada aqui, quais sardinhas em pão caseiro, dose de chapada entre dois senhores que resolveram aliviar o stress um no outro. Ás vezes dá para rir, mas sinceramente continuo sem perceber o que move as pessoas a passar dias de INFEEEERNOOOOOO!!!!! no período das férias. Cheguei ao supermercado e lá estava um senhor a pedir o livro de reclamações não sei porque razão, e as coitadas das senhoras que estavam na caixa a fazerem o melhor que podem para acalmar os ânimos daquele animalzinho. Já cheguei a assistir a pessoas maldizerem o Algarve e os Algarvios por causa do tempo. Que raio de culpa é que tenho eu que quase tenha chovido ontem? Alguém me pode explicar? Não chove na vossa terra por acaso?
Enfim. É preciso muita paciência mesmo. Outra coisa de destacar. Pela primeira vez este ano tive de procurar lugar para estacionar… já começa outra vez… ai…ai… ai…
Por acaso ouvi dizer que em ESPANHA NUNCA CHOVE!!!! PODIAM IR PARA LÁ POR FAVOR!!!!!! Era fixe…

quarta-feira, junho 06, 2007

Escrever em tempos de confusão.


Gosto muito de escrever, mas não tenho tido tempo para tal. Hoje decidi fazer uma pausa nas obrigações, e passar a fazer algo de próprio, egoísta e decididamente auto satisfatório. Então cá vai disto, espero que gostem. Estou naquela fase da minha vida em que tenho, responsabilidades, empréstimos, trabalho, obrigações, família, enfim, tudo aquilo que as pessoas têm porque querem, têm porque precisam, têm porque têm de ter, cada qual com a sua própria versão, cada um molda o seu molde, ou tenta encaixar-se naquilo que mais e melhor lhe convém, quando convém e onde convém, e se de facto convém mesmo. No entanto há mais na vida do que as coisas que nos fazem mover no sentido que elas querem. Chegamos a certa altura em que temos de pôr um travão nessas mesmas coisas, e tentar fazer um esforço para que a corrente não nos leve completamente. Tudo isto para dizer que hoje, tinha mesmo que fazer uma pausa naquilo que a corrente quer, e tirar estes minutinhos para escrever neste blog. Pedras na engrenagem são aquilo que mais nos aparece quando queremos fazer algo de que gostamos muito. Pedras na mesmíssima engrenagem também aparecem quando temos algo a fazer, não tão agradável quanto isso, pelo contrário, mas que temos de fazer com a mesma força, memo se o espírito não está a favor. Ultimamente tenho recebido algumas pedras na engrenagem da minha vontade, pedras essas que são suficientemente grandes para abrandar esta minha viagem, obrigando-me por afastar-me cada vez mais do caminho original. Hoje resolvi portanto ser egoísta e redireccionar o veículo pelo caminho certo, aquele que me dá mais prazer, que me faz realmente feliz.
Algo que acho mesmo estranho é o facto de sentir que pessoas que não conheço a não ser do mundo da blogosfera, estarem a passar por coisas semelhantes ao mesmo tempo do que eu. Seremos assim tão parecidos? Será possível que os nossos passos estarem ligados por uma rotina tão similar que nos aconteça o mesmo, mais ou menos à mesma altura? Afinal a única coisa que parece distanciar-nos, ou melhor, diferenciar-nos uns dos outros é mesmo a forma de nos exprimimos. Cada um de nós tem uma sintonia própria, com palavras e ideias suas, umas mais directas, outras mais subtis, mas a música de fundo é mais ou menos a mesma, acompanhando todos os nossos passos, qual orquestra online, que é a nossa vida. Por vezes dou por mim a ler aquilo que me acontece nas palavras dos outros. O meu pensamento aparece-me antecipado nas linhas de um conjunto de pessoas que acabam por fazer parte do meu dia-a-dia.
Um abraço a todos que tudo vos corra bem, acabando por me correr a mim também, tudo aquilo que vivo em todos vós, assim como a minha sorte vai tocar na pontinha do Icebergue da fortuna de terceiros…

sábado, junho 02, 2007

I'm Back


Quero pedir desculpa a todos pela ausência um tanto ou quanto forçada, mas estou definitivamente de volta, e já não era sem tempo.